CLIQUE AQUI E SEJA LEVADA Á MAIOR LOJA DE BIQUÍNIS ATACADO E VAREJO DO BRASIL

CLIQUE AQUI E SEJA LEVADA Á MAIOR LOJA DE BIQUÍNIS ATACADO E VAREJO DO BRASIL
Biquínis Guarujá whatsapp 13 9 9192-8888

domingo

Favela, espaço e sujeito: uma relação conflituosa Ana Beatriz Rodrigues Gonçalves * Denise Aparecida do Nascimento



**
RESUMO:
O presente trabalho tem como objetivo explicitar a relação conl ituosa que há 
entre sujeito/território, centro/periferia usando como referência textual o livro 
Quarto de despejo: diário de uma favelada (1963), de Carolina Maria de Jesus. Para 
pensarmos na favela enquanto “espaço socialmente vazio” conforme Zygmunt 
Bauman, faz-se necessário recorrer às rel exões explícitas em  Modernidade Líquida
(2001), assim como nos apoiaremos no pensamento do também sociólogo Jessé 
Souza sobre a invisibilidade social, além das considerações acerca de território, 
lugar e espaço do geógrafo  Rogério Haesbert. 
Palavras-chave:  Favela. Centro. Conl ito. Invisibilidade. Carolina Maria de 
Jesus.
Introdução
A arte literária chama atenção para áreas
de experiência que de outro modo passariam despercebidas. (Yi Fu Tuan)
O vazio do lugar está nos olhos de quem vê
 e nas pernas ou rodas de quem anda.
(Zigmund Bauman)
A ideia de pertencer a um lugar ou a um grupo é tão antiga e necessária para o sujeito quanto 
respirar. É na interação com o outro que o “eu” realiza sua existência. O princípio da alteridade só tem 
razão de existir em relação ao outro. Então o que fazer quando o “eu” ocupa um território inexistente 
aos olhos do outro? 
Nessa perspectiva traçamos algumas rel exões sobre a favela e a multiplicidade de signii cados 
que a circundam, assim como sua relação com os indivíduos igualmente multifacetados que as 
ocupam. Esses lugares produzem ou perpetuam “sujeitos deslocados” – citando Edward Said (2003, 
p. 209) – que estão sempre buscando um lugar com qual se identii car, i xar raízes.
O presente trabalho pretende rel etir a condição do morador de favelas e suas representações 
no intuito de explicitar a relação conl ituosa que há entre sujeito/território. Como o sujeito favelado 
se percebe diante da sociedade e como é percebido pelo meio. Além desse ponto focaremos a questão 
da visibilidade/invisibilidade de locais periféricos, pois percebemos nos discursos midiáticos uma 
naturalidade em relacionar miséria com violência. Para tanto tomamos como referência o livro 
Quarto de Despejo: diário de uma favelada (1963), da escritora Carolina Maria de Jesus, uma vez que 
concebemos a autora como representante do sujeito desacomodado que desai a cânones (literário e 
urbano) com sua escrita-denúncia, que “fere” a norma culta da língua portuguesa, além de descrever 
um espaço urbano que insiste em não ser reconhecido.
Inicialmente buscaremos a história da formação das favelas. Para tal empreendimento faremos 
um breve recuo histórico até Os Sertões de Euclides da Cunha, livro publicado originalmente em 
1902, e as consequências do confronto em Canudos em i nais do século XIX. De acordo com os 
apontamentos de Lícia do Prado Valladares (2005), a primeira aglomeração a ocupar um território de IPOTESI, JUIZ DE FORA, v.15, n.2, p. 51-62, jul./dez. 2011 52
maneira desorganizada surgiu no Rio de Janeiro e foi formada por soldados que lutaram em Canudos. 
Na sequência teceremos algumas considerações a respeito da invisibilidade social que envolve o sujeito 
negro contemporâneo, seguindo as rel exões do sociólogo Jessé Souza em seu livro A invisibilidade da 
desigualdade brasileira (2006).
Trabalharemos ainda os conceitos de território, lugar e espaço seguindo os esclarecimentos 
de Rogério Haesbaert em O mito da desterritorialização (2007) e Yi Fu Tuan em  Espaço e Lugar
(1983). Seguindo, pensaremos na favela enquanto “espaço vazio”, conforme Zygmunt Bauman 
em Modernidade Líquida (2001). Em seguida passaremos à análise do diário de Carolina, à luz dos 
conceitos supracitados, e i nalmente apresentaremos a conclusão do artigo aqui proposto.
A invisibilidade a partir de Canudos
A história nos conta e reconta o processo de inserção do sujeito negro e ex-escravo na sociedade 
brasileira recém-abolição. A partir do i m do regime escravocrata no século XIX, com a libertação 
dos escravos o contingente populacional cresceu de maneira exorbitante. O processo abolicionista 
favoreceu a emancipação da população negra cativa, mas não os livrou dos estigmas da escravidão 
com a mesma velocidade. Era difícil, inclusive, para muitos negros se desvencilharem dos grilhões que 
os prendiam. Com a nova situação social do país, o status quo do negro mudou para pior, de serviçais e 
cativos passaram “a vagabundos, ociosos e desorganizados social e moralmente…” (WISSENBACH, 
1989, p.52).
Vale ressaltar que a experiência da escravidão era, obviamente, vista e sentida de maneiras 
diferentes para os senhores e seus escravos; assim, o sentido de liberdade também carregava valores 
que diferiam entre esses segmentos. Se para os senhores liberdade era manter o “fôlego vivo”, para os 
ex-cativos, liberdade se concretizava “de imediato, na realização de desejos e na posse de objetos que 
lhes haviam sido proibidos quando eram escravos” (WISSENBACH, 1989, p.53). Era necessário um 
retorno às raízes, esse era o gosto da liberdade. Quando os negros fugiam, reuniam-se nos quilombos, 
um pedaço da África mãe, onde reviviam práticas comuns com seus iguais. Com o i m dos quilombos 
e com a abolição, todos se dispersaram. Logo perceberam que ser livre no meio daqueles que os 
escravizaram fazia a liberdade perder o sentido. 
Após a abolição os negros saíram a esmo e foram se juntando a outros grupos de homens livres, 
porém igualmente marginalizados, tais como os mestiços e os índios:
A territorialidade negra se manteve em bairros rurais originários de doações 
de parcelas de terras aos libertos, algumas delas anteriores à Abolição, em 
grupos de remanescentes de quilombos ou de simples ocupantes das terras e, 
principalmente, nos agrupamentos negros existentes nas cidades brasileiras 
(WISSENBACH, 1989, p.53).
O grupo formado por esses novos “cidadãos” mudou o peri l socioeconômico do país, uma vez 
que vários outros vinham de diferentes regiões e traziam consigo marcas particulares de seus lugares de 
origem, favorecendo a diversidade cultural que já se instalava no Brasil. Contudo, como vinham de uma 
experiência de cativeiro, esses negros não se i xavam em terra alguma. Trabalhavam em propriedades 
alheias, recebiam pelo serviço prestado e partiam rumo a novas terras e novos trabalhos. Desse modo, os 
negros acrescentaram em sua longa lista de adjetivos negativos mais um termo: nômades. O nomadismo 
se caracteriza pela não i xidez habitacional – o que soa como uma negação à vida de cativeiro que 
levavam anteriormente. Essa mobilidade pode ser compreendida conforme Wissenbach:IPOTESI, JUIZ DE FORA, v.15, n.2, p. 51-62, jul./dez. 2011 53
Mobilidade provocada, sem dúvida, por um sistema que relegava aos homens 
livres um viver à margem e um aproveitamento residual, a estrutura da sociedade 
escravocrata engendrou homens andarilhos, “sem vínculos, despojados, a 
nenhum lugar pertenceram e a toda parte se acomodaram” (1989, p.53).
Esse cenário móvel foi sofrendo algumas alterações à medida que foram eclodindo guerras 
localizadas dentro do Brasil e o exército ia recrutando andarilhos, desocupados e tropeiros, ou seja, os 
negros recém-livres. Esses, para escapar dos recrutamentos, passaram a se esconder ou se “acomodar” 
em territórios afastados dos centros urbanos. Foram recrutados primeiro para a Guerra do Paraguai
1
e depois para qualquer outro conl ito que surgia.
Julgamos necessário fazer, nesta altura do trabalho, um retrocesso na história e buscar em 
Canudos – no sertão do estado da Bahia – uma relação na gênese, na formação dos territórios da 
pobreza que ainda assolam a sociedade brasileira. Pensamos ser relevante apontar as dimensões 
históricas que favorecem a compreensão da pobreza e da marginalidade que também justii cam sua 
permanência (VALLADARES, 2005, p.). A Guerra de Canudos
2
 durou um ano e mobilizou mais 
de dez mil soldados oriundos de dezessete estados brasileiros e distribuídos em quatro expedições 
militares. Estima-se que morreram mais de vinte e cinco mil pessoas, culminando com a destruição 
total da cidade. 
O i m da Guerra de Canudos se deu em 1898 com a vitória do exército sobre os sertanejos. 
Os soldados que lutaram no confronto não receberam o salário que lhes era de direito, decidiram ir 
para o Rio de Janeiro (a capital do país) pressionar o Ministério da Guerra. Não conseguiram reaver o 
soldo atrasado e, sem condições i nanceiras, se instalaram no Morro da Providência – posteriormente 
rebatizado Morro da Favella
3
 – e por lá i caram esquecidos. Mais tarde outros tantos se juntaram a eles 
vindos de diferentes partes do Brasil e por motivos diversos foram se juntando, e em pouco tempo o 
lugar se consolidou como um território de ocupação ilegal, irregular, sem respeito às normas ou à lei 
conforme relatado por Valladares: “[…] em 1900 o Jornal do Brasil proclamava ser aquele um lugar 
‘infestado de vagabundos e criminosos que são o sobressalto das famílias’ ” (VALLADARES, 2005, p. 
26). Mais adiante a autora reproduz a fala de um delegado: 
Se bem que não haja famílias no local designado, é ali impossível ser feito o 
policiamento porquanto nesse local, foco de desertores, ladrões e praças do 
exército, não há ruas, os casebres são construídos de madeira e cobertos de zinco, e 
não existe em todo o morro um só bico de gás (VALLADARES, 2005, p. 26-27).
É nesse cenário que os negros, fugindo do passado de dominação, chegaram e ocuparam as 
periferias das grandes cidades e se tornaram invisíveis. Esconder-se em morros que pudessem dii cultar 
o acesso das autoridades era uma maneira de impor barreiras aos desmandos burgueses e,  ao mesmo 
tempo, de reorganizar suas vidas:
[…] contornando os resquícios do domínio escravista, os l agelos da fome e das 
secas, fugindo dos alistamentos e das conturbações políticas, buscando novos 
espaços sociais que permitissem minimizar não só as mazelas do desenraizamento, 
como também a condição de exclusão pretendida pelos projetos modernizantes 
das elites brasileiras (1989, p.60).IPOTESI, JUIZ DE FORA, v.15, n.2, p. 51-62, jul./dez. 2011 54
Como uma das muitas consequências de uma abolição sem planejamento, poucas opções de 
moradia restavam aos ex-escravos, que formalmente estavam livres, mas não conseguiram se livrar das 
condições sub-humanas às quais foram submetidos por tantos anos.
A invisibilidade historicamente forçada da qual a população negra desfruta, ainda hoje, 
pode ser lida como o resultado do processo de humilhação social, construída durante séculos. A 
instabilidade socioeconômica que se instalou no Brasil na virada do século XIX somada ao crescimento 
populacional – os negros recém-libertos foram tangidos para o mundo e chegaram aos “grandes” 
centros – desencadearam profundas reformas no cenário urbano, que de certa forma já “[…] concebia 
a disciplinarização da pobreza, segregada em espaços ‘marginais’ ”, como diz Haesbaert em Territórios 
Alternativos (2006, p.93). 
A invisibilidade social: breve panorama
Em 2006, o sociólogo Jessé Souza lançou o livro A invisibilidade da desigualdade brasileira, 
tendo como tema central a invisibilidade social em determinado grupo de indivíduos. Nesse livro 
Souza desenvolve, com alguns autores clássicos da sociologia nacional, tais como Sérgio Buarque de 
Holanda, Roberto DaMatta e Gilberto Freyre, uma discussão sobra a formação da identidade brasileira. 
Segundo Souza, esses autores, ao tentarem construir em suas obras uma identidade nacional do povo 
brasileiro, caem em uma “teoria emocional da ação” que é… “como se todos os indivíduos dessas 
sociedades ‘integradas emocionalmente’ fossem essencialmente semelhantes, sem qualquer divisão de 
classe, e apenas diferissem na renda que ganham” (SOUZA, 2006, p.14). Para Souza, é uma espécie 
de “melting pot” nacional que não separa grupos de indivíduos e suas histórias particulares. Ainda 
que exaltem as qualidades desse povo, os sociólogos não abordam as possíveis principais causas da 
desigualdade no país. Souza critica os esquemas explicativos utilizados pelos sociólogos, pois para 
ele, esses tendem a perder sua relação com qualquer realidade mais ampla a partir do momento 
que eles tentam explicar o comportamento do brasileiro pela colonização portuguesa, ignorando a 
interlocução com outras culturas periféricas. Ao discordar dos clássicos da sociologia, Souza apresenta 
possibilidades concretas para o desenvolvimento de teorias sociais críticas que possam explicar o 
Brasil e sua gente, pois “[p]ara compreender a desigualdade brasileira é necessário compreender o 
Brasil contemporâneo na sua extraordinária complexidade” (SOUZA, 2006, p.10).
Souza não acredita que apenas descrever a realidade das pessoas socialmente humilhadas possa 
dei nir o que é desigualdade e sua origem social. Para o autor é preciso articular a história de vida 
desses sujeitos invisíveis com a história do Brasil e com teorias sociais sólidas.
É importante ressaltar que ser ou tornar-se socialmente invisível é fenômeno que não está 
associado à etnia e sim à questão econômica. Vale lembrar o caso de Fernando Braga da Costa – 
homem, branco, jovem e de classe média alta – que em 1996, ainda estudante de psicologia, iniciou 
uma pesquisa a i m de comprovar a existência da invisibilidade pública por meio de uma mudança de 
personalidade ou comportamento. 
Por oito anos – tempo de duração da pesquisa – Costa alternava sua personalidade entre estudante 
de psicologia e gari dentro da mesma instituição em que estudava, a USP. O psicólogo relata que 
quando vestia o uniforme de gari não era reconhecido pelos professores nem pelos colegas do curso. 
Sua experiência foi transformada no livro Homens invisíveis: relatos de uma humilhação social (2004). 
Nele o autor deixa claro que a invisibilidade é um conceito aplicado a seres socialmente invisíveis e 
que atinge indiferentemente a homens, mulheres, negros e brancos desde que compartilhem a mesma 
faixa econômica – leia-se baixa renda –, todos se tornam assim invisíveis, seres sem nome.IPOTESI, JUIZ DE FORA, v.15, n.2, p. 51-62, jul./dez. 2011 55
Território, espaço e lugar
De forma direta, território é uma área geográi ca demarcada por um indivíduo ou um grupo 
de indivíduos que exercem “poderes” percebidos em várias instâncias: políticos, econômicos, sociais 
e culturais. Já o espaço pode-se pensar como um elemento naturalmente “dado”, mas seu sentido 
só surge depois que o território é trabalhado e transformado pelo homem. Nesse caso, podemos 
compreender que o espaço é onde se exercita e compreende a sensação do pertencimento. Nele estão 
presentes todas as simbologias da existência.
Para Rogério Haesbaert, espaço e território são componentes indissociáveis à condição 
humana: “não há como dei nir o indivíduo, o grupo, a comunidade, sem ao mesmo tempo inseri-los 
num determinado contexto geográi co, ‘territorial’ ” (HAESBAERT, 2007, p.20). No processo de 
territorialização os sujeitos vão além da necessidade da apropriação de um espaço, ali as alteridades 
desenvolvem laços de convívio. 
É importante salientar que Haesbaert analisa o território a partir de uma tríplice abordagem: 
jurídico-política, econômica e cultural. Assim, além do caráter do poder estatal, salienta o aspecto 
humano da identidade social presente na constituição do território.
Pensamos território como um “espaço” que se constrói, destrói e reconstrói, em uma dinâmica 
que relaciona as ações sócio-políticas e culturais, com ações humanas. Nesse sentido, articulamos 
destruição territorial e sua reconstrução ao processo de desterritorialização e reterritorialização. É 
válido esclarecer que a destruição não passa necessariamente pelo processo de desaparecimento ou i m 
da localidade, mas sim pelo processo de adquirir novos valores, novos sentidos.
Yi Fu Tuan em Espaço e Lugar (1983) trata de relacionar o conceito de lugar com a afetividade. 
Para Tuan lugar se diferencia de território no aspecto da valorização, pois são áreas descritas como 
concretas, transformadas pelo homem e seus interesses. Seguindo sua dei nição para o termo “lugar” e 
acrescentando a dei nição de território, por Haesbaert, concebemos que lugar é o espaço do dia-a-dia, 
experienciado no cotidiano, e território é o espaço de atuação dos poderes institucionalizados. Para 
ambos os geógrafos o espaço, quando é dominado pelo homem, torna-se lugar/território.
Zygmunt Bauman questiona em seu livro Modernidade Líquida (2001) se a modernidade não 
seria a grande responsável pela perda dos valores, pela desmitii cação dos ritos e, principalmente, pela 
liquefação das certezas. Segundo Bauman, é nesse processo moderno que os espaços urbanos surgem 
não como abrigo, mas como o próprio algoz do homem, são aqueles que oferecem perigo e solidão. 
Ao traçar a evolução da vida urbana, o autor se depara com as fronteiras visíveis e invisíveis que 
restringem o direito de ir e vir do cidadão urbano.  
Bauman também fala dos espaços. Mas o teórico vai um pouco além, fala de outros espaços, fala 
também dos vazios urbanos. Aqueles que não possuem signii cado, que estão situados às margens dos 
centros urbanos, são vividos e não percebidos, e são rejeitados. Para o autor, lugares sem signii cados 
quer dizer não considerados aos olhos de muitos. Um terreno baldio ou uma construção abandonada 
pode ter o mesmo valor de um bairro inteiro, pois conforme a epígrafe assinalada no início deste 
trabalho, o vazio depende de quem o vê.
Parece-nos oportuno citar um pequeno relato que Bauman faz sobre uma conferência na Europa. 
O autor nos conta que foi recebido no aeroporto pela i lha de um casal de amigos que demorou quase 
duas horas no trajeto do aeroporto até ao hotel onde ele i caria. A jovem se desculpou, mas enfatizou 
não ter como evitar o tráfego do centro da cidade. Quando Bauman retornou ao aeroporto, preferiu 
pegar um táxi, que demorou apenas dez minutos no trajeto inverso. Isso aconteceu porque o táxi 
tomou um outro trajeto, que passava pelo subúrbio da cidade: IPOTESI, JUIZ DE FORA, v.15, n.2, p. 51-62, jul./dez. 2011 56
[…] o motorista foi por i leiras de barracos pobres, decadentes e esquecidos, 
cheios de pessoas rudes e evidentemente desocupadas e crianças sujas vestindo 
farrapos. A ênfase de minha guia em que não havia como evitar o tráfego do 
centro da cidade não era mentira. Era sincera e adequada a seu mapa mental da 
cidade em que tinha nascido e onde sempre vivera. Esse mapa não registrava as 
ruas dos feios “distritos perigosos” pelas quais o táxi me levou. No mapa mental 
de minha guia, no lugar em que essas ruas deveriam ter sido projetadas havia, 
pura e simplesmente, um espaço vazio (BAUMAN, 2001, p. 121).
A visibilidade desses espaços ocorre quando esses são relacionados a aspectos negativos, tais 
como a violência ou a miséria. Daí pensarmos em favelas. Com a chegada dos Estudos Culturais e 
sua resguardada aceitação no meio acadêmico tornou-se possível estudar objetos “menores” como a 
periferia dos grandes centros urbanos. É necessário destacarmos nossa compreensão sobre o processo 
de favelização das cidades. 
Para nós, esse fenômeno não ocorre apenas devido à atração de pessoas vindas de meios rurais 
ou cidades menores. Esses espaços vão surgindo também no interior do próprio meio urbano. Classes 
dominantes detentoras das forças produtivas articuladas ao Estado produzem cidades planejadas, 
socioespacialmente desiguais e segregadoras, em que elites residem em áreas privilegiadas e centrais 
desfrutando dos serviços públicos, e as populações pobres são empurradas para áreas marginais e 
precárias sujeitas a viver de forma desumana.
No livro Moradia nas cidades brasileiras (1988), a geógrafa Arlete Moysés Rodrigues aponta 
que, a partir da década de 1940, um enorme l uxo de migrantes nordestinos chegou a São Paulo em 
busca de trabalho e de melhores condições de vida. Sem lugar para morar, ocuparam terrenos vazios, 
encostas de morros e áreas precárias. Rodrigues faz um levantamento da origem histórica da favela, 
mostrando que só a partir dos anos de 1950 começaram a ser vistas como um problema social
4
.
 Situando Carolina Maria de Jesus
O barraco é assim: de tábuas, coberto de lata, papelão e tábuas também. Tem 
dois cômodos, “não muito cômodos”. Um é sala-quarto-cozinha, nove metros 
quadrados, se muito fôr [sic], e um quartinho, bem  menor, com lugar para 
uma cama justinho, lá dentro… Tem muitas coisas dentro dele, que a luz da 
janelinha, deixa a gente ver: um barbante esticado, quase arrebentando de trapos 
pendurados, mesinha quadrada, tábua de pinho; fogareiro de lata, lata de água, 
lata de fazer café e lata de cozinhar; tem também guarda-comida, escuro de 
fumaça e cheio de livros velhos e mais duas camas, uma na sala-quarto-cozinha 
e outra no quarto assim chamado… Isto é o barraco dentro. O barraco fora é 
como todos os barracos de todas as favelas. Feio como dentro.
(Audálio Dantas na apresentação do livro Quarto de despejo, s/p).
A favela surge primeiro da necessidade do onde morar, e só posteriormente o como morar é 
que preocupa. Casa/barraco de lata, de folha de zinco ou papelão, isso se resolve depois. Na verdade, 
a imagem das favelas atuais tem variado bastante de uma cidade para outra; algumas já possuem 
saneamento básico, asfalto e até transporte urbano, contudo os pontos negativos que a caracterizam, 
tais como violência e miséria, mantêm seu  status quo. Para muitos, a favela é uma estratégia de 
sobrevivência: uma saída, uma iniciativa, que levanta barracos de um dia para outro, contra uma 
ordem desumana e segregadora, mas nem por isso um espaço de acomodação.IPOTESI, JUIZ DE FORA, v.15, n.2, p. 51-62, jul./dez. 2011 57
Por volta de 1948 Carolina chega a uma favela que nascia e se expandia nas margens do rio 
Tietê, no bairro do Canindé, na grande São Paulo. Lá chegando foi obrigada a tirar do lixo o seu 
sustento diário, como faziam centenas de favelados. 
Negra, pobre e com baixa escolaridade, Carolina foi alvo de muita discriminação, e recriminada 
devido ao seu espírito ousado e autônomo, deixou sua cidade natal ainda jovem; essa saída parece 
perpetuar velhas regras sociais vigentes desde o Brasil do i nal do século XIX, quando os negros se 
puseram a caminho de uma vida nova. A dispersão que, normalmente, é resultada por conl itos 
políticos ou religiosos, em sociedades pós-coloniais como a nossa, tem como principal fator a 
economia, ou seja, vagar por aí é um legado histórico. Carolina foi sendo empurrada para a periferia 
pelo desrespeito e pela pobreza: 
[...] Nós somos pobres, viemos para as margens do rio. As margens do rio são 
os lugares do lixo e dos marginais. Gente da favela é considerado marginais. 
Não mais se vê os corvos voando as margens do rio, perto dos lixos. Os homens 
desempregados substituíram os corvos (JESUS, 1963, p.45)
5
.
Em um determinado trecho, em que narra a morte de um conhecido, também catador de papel, 
que havia encontrado carne no lixo e comido, Carolina expõe sua percepção sobre sua condição: “[…] 
Revoltei contra o tal Serviço Social que diz ter sido criado para reajustar os desajustados, mas não 
toma conhecimento da existência infausta dos marginais”(JESUS, 1963, p.32). 
No livro O negro no mundo dos brancos (2007), Florestan Fernandes focaliza a integração dos negros 
na sociedade brasileira a partir de São Paulo. Para ele o estado paulistano guarda, em sua amplitude e 
diversidade econômica, aspectos do período escravocrata em se tratando da estrutura social. Fernandes 
dei ne como desajustado aquele sujeito cujas atitudes contrariam as regras de comportamento social 
impostas pela sociedade. O negro foi exposto a um mundo socialmente organizado para os segmentos 
privilegiados da raça dominante, mas não i cou inerte. Muitos se rebelaram. Carolina escrevia a i m 
de denunciar as mazelas pelas quais passavam ela, os i lhos e os outros moradores da favela. Ser um 
desajustado é inconformar-se com as regras e com o status quo social vigente. Desse ponto de vista os 
desajustados são revolucionários, impõem novos comportamentos, são os vistos como “diferentes”: 
“Vou escrever um livro referente a favela. Hei de citar tudo que aqui se passa. E tudo que vocês me 
fazem. Eu quero escrever o livro, e vocês com estas cenas desagradáveis me fornece os argumentos” 
(JESUS, 1963, p.14). Carolina assim se defendia dos ataques que sofria de seus vizinhos, indivíduos 
que viviam sob as mesmas condições que ela.
Carolina não se conformava com sua vida na favela e desenvolvia uma relação hostil com 
o lugar e com os vizinhos: “[…] As oito e meia da noite eu já estava na favela respirando o odor 
dos excrementos que mescla com o barro podre” (JESUS, 1963, p.29). A realidade de miséria, o 
comportamento degradante dos vizinhos, inclusive das crianças: “No início são educados, amáveis. 
Dias depois usam o calão, são soezes e repugnantes. São diamantes que se transformam em chumbo” 
(JESUS, 1963, p. 37). A falta de solidariedade e a “feiúra”, que contaminava a todos que moravam 
ali, a instigavam a protestar e a não reconhecer aquele lugar como seu: “[...]Cheguei à favela: eu não 
acho geito de dizer cheguei em casa” (JESUS,1963, p.39). 
Em seu olhar, ora irritado, ora pesaroso, quase sempre dúbio, teremos a representação do 
universo da favela. A Carolina que aparece ali está sempre dividida entre o desprezo que sente pela 
gente do lugar: “[…] as mulheres da favela são horríveis numa briga. O que podem resolver com 
palavras elas transformam em conl ito. Parecem corvos, numa disputa” (JESUS, 1963, p. 54); e a 
solidariedade superior da artista que se ai rma diante do seu outro: “[…] o poeta enfrenta a morte IPOTESI, JUIZ DE FORA, v.15, n.2, p. 51-62, jul./dez. 2011 58
quando vê seu povo oprimido” (JESUS, 1963, p.38). No entanto, talvez os momentos mais fortes de 
sua narrativa sejam exatamente aqueles em que ela precisa assumir fazer parte desse mundo obscuro, 
invisível: 
[…] Fui na Dona Juana, ela deu-me pães. Passei na fábrica para ver se tinha 
tomates. Havia muitas lenhas. Eu ia pegar uns pedaços quando vi um preto 
dizer para eu não mecher nas lenhas que êle ia bater-me. Eu disse para bater que 
eu não tenho medo. Êle estava pondo as lenhas dentro do caminhão. Olhou-me 
com desprezo e disse:
– Maloqueira!
– por eu ser de maloca é que você não deve mecher comigo. Eu estou habituada a 
tudo. A roubar, brigar e beber. Eu passo 15 dias em casa e quinze dias na prisão. 
Já fui sentenciada em Santos.
Êle fez menção de agredir-me e eu disse-lhe:
– eu sou da favela do Canindé. Sei cortar de gilete e navalha e estou aprendendo 
a manejar a peixeira. Um nortista está me dando aulas. Se vai me bater pode vir.
Comecei apalpar os bolsos. 
– Onde será que está minha navalha? Hoje o senhor i ca só com uma orelha. 
Quando  eu  bebo  umas  pingas  i  co  meio  louca.  Na  favela  é  assim,  tudo  que 
aparece por lá nós batemos e roubamos o dinheiro e tudo que tiver no bolso. 
O preto i cou quieto. Eu vim embora. Quando alguém nos insulta é só falar que 
é da favela e pronto. Nos deixa em paz. Percebi que nós da favela somos temido. 
Eu desai ei o preto porque eu sabia que êle não ia vir. Eu não gosto de briga 
(JESUS, 1963, p.70).
É na esteira da discussão sobre território, desterritorialização e reterritorialização que situamos 
Carolina Maria de Jesus e a favela. Temos que o fato de ocuparmos uma determinada área já nos 
identii ca socialmente. Porém a relação território-identidade é muitas vezes conl ituosa. Ocupar 
uma área não signii ca transformá-la em um território íntimo, reconhecido como um espaço vivido, 
mas ocorre também expressivo repúdio pelo mesmo. A favela do Canindé representava essa área, 
despertava um sentimento paradoxal. Muitos moradores de lá se sujeitavam às condições impostas. 
Já Carolina rejeitava qualquer ligação emotiva, qualquer traço que a identii casse com a favela, nos 
sonhos encontrava a válvula de escape: 
Passei uma noite horrível. Sonhei que eu residia numa casa residível, tinha 
banheiro, cozinha, copa e até quarto de criada. Eu ia festejar o aniversário de 
minha i lha Vera Euníce. Eu ia comprar-lhe umas panelinhas que há muito ela 
vive pedindo. Porque eu estava em condições de comprar. Sentei na mesa para 
comer. A toalha era alva ao lírio. Eu comia bife, pão com manteiga, batata frita 
e salada. Quando fui pegar outro bife despertei. Que realidade amarga! Eu não 
residia na cidade. Estava na favela. Na lama, as margens do Tietê […] (JESUS, 
1963, p.31).
Considerando que território é um espaço que adquire signii cado na medida em que ações 
humanas – em uma relação dinâmica com ações sócio-político-culturais – promovem transformações, 
nesse cenário, o tempo assume um valor estratégico diante dessas transformações. A construção de 
uma identidade territorial se forma e ai rma na medida em que se experiencia o espaço habitado e se 
desenvolve um elo emocional; desse modo, a percepção de tempo afeta a sensação de lugar.IPOTESI, JUIZ DE FORA, v.15, n.2, p. 51-62, jul./dez. 2011 59
A rejeição de Carolina pela favela é resultado das transformações de seu cotidiano, que está 
sempre se materializando em “algo novo”, novos sentidos. Yi Fu Tuan, ao falar sobre a experiência, 
em uma de suas dei nições diz: 
Experienciar é vencer os perigos. A palavra ‘experiência’ provém da mesma raiz 
latina (per) de ‘experimento’, ‘experto’ e ‘perigoso’. Para experienciar no sentido 
ativo, é necessário aventurar-se no desconhecido e experimentar o ilusório e o 
incerto. Para se tornar um experto, cumpre arriscar-se a enfrentar os perigos do 
novo (TUAN, 1983, p.10).
Ao experienciar o novo em seu cotidiano, Carolina promove o que Haesbaert denomina de 
“desterritorialização” – seria a destruição ou transformação de território. Lembrando que essa destruição 
territorial não passa, necessariamente, pelo processo de desaparecimento ou i m da localidade, mas de 
ressignii cação. Portanto, esse “algo novo materializado” é o que percebemos como reterritorialização 
ou uma nova projeção do território.
A favela vista e sentida na mobilidade diária de Carolina era o espaço em movimento onde a 
escritora forjava suas conquistas e lutava pelos direitos à visibilidade. Com Carolina, observa-se que 
o fenômeno da desterritorialização alcança uma amplitude que supera o sentido de destruição. Aqui 
desterritorializar não se limita a desarticular os poderes socialmente instituídos, ela atinge também 
referências fundamentais na constituição do indivíduo. A formação de uma identidade coletiva i ca 
então comprometida, na medida em que Carolina rompia com estereótipos (de favelada padrão) e se 
impunha por seu mérito pessoal (ato de escrever). Desse modo, a escritora experimenta a solidão que 
os diferentes ou deslocados sentem em territórios estranhos. É em seu barraco e com sua escrita que 
Carolina busca a reterritorialização, seu espaço íntimo, resguardada da hostilidade exterior: 
Quando vejo meus i lhos comendo arroz e feijão, o alimento que não está ao 
alcance do favelado, i co sorrindo atôa. Como se eu estivesse assistindo um 
espetáculo deslumbrante. Lavei as roupas e o barracão. Agora vou ler e escrever. 
Vejo os jovens jogando bola. E êles correm pelo campo demonstrando energia. 
Penso: se êles tomassem leite puro e comessem carne […] (JESUS, 1963, p.40).
A autora percebe o fosso que separa os mundos – a favela em que vivia e o mundo de alvenaria 
que tanto desejava: “[…] os visinhos de alvenaria olha os favelados com repugnancia. Percebo seus 
olhares de ódio porque êles não quer a favela aqui. Que a favela deturpou o bairro. Que tem nojo da 
pobrêsa. Esquecem êles que na morte todos i cam pobre” (JESUS, 1963, p.47). Sentia o desprezo dos 
companheiros de infortúnios da favela: 
– Se eu pudesse mudar desta favela! Tenho a impressão que estou no inferno.
[…] Sentei ao sol para escrever. A i lha da Silvia, uma menina de seis anos, 
passava e dizia:
– Está escrevendo, negra i dida!
A mãe ouvia e não repreendia. São as mães que instigam (JESUS, 1963, p.20).
Da mesma maneira sentia por não ser vista ou ser desrespeitada fora da favela:
[…] Saí e fui no empório. Comprei arroz, café e sabão. Depois fui no Açougue 
Bom Jardim comprar carne. Cheguei no açougue, a caixa olhou-me com um 
olhar descontente.IPOTESI, JUIZ DE FORA, v.15, n.2, p. 51-62, jul./dez. 2011 60
– Tem banha?
– Não tem.
– Tem carne?
– Não tem.
Entrou um japonês e perguntou:
– Tem banha?
Ela esperou eu sair para dizer-lhe:
– Tem.
Voltei para a favela furiosa. Então o dinheiro do favelado não tem valor? Pensei: 
hoje eu vou escrever e vou chingar a caixa desgraçada do Açougue Bom Jardim.
Ordinaria! (JESUS, 1963, p.127-128).
Conclusão
É notório que estudos sobre a periferia brasileira vêm atraindo mais e mais pesquisadores e 
ganhando forças dentro da academia. Debater sobre a realidade da população de baixa renda é desvelar 
intervenções públicas inei cazes. As soluções são paliativas porque as favelas só incomodam quando 
são vistas, e só são vistas quando incomodam.
As favelas se multiplicam, mudam suas coni gurações, mas continuam degradando o sujeito. 
Na cidade, o “eu” e o “outro” se fundem e se perdem nos subúrbios e na exclusão. 
Quarto de Despejo é mais do que o retrato de uma favela. É a denúncia das condições de 
vida de uma comunidade marginalizada, para alguém que dispunha de poderosa arma e que soube 
utilizá-la, como nenhum outro: a palavra. E dessa arma Carolina Maria de Jesus fez o uso devido. 
Relatou, descreveu, mostrou o sofrimento, as agruras da fome, preocupada não com o apuro formal da 
linguagem, mas com o conteúdo da sua mensagem. O sonho de escrever um livro com os argumentos 
que os favelados lhe forneciam realizou-se.
Em suma, a miséria que faz Carolina visível pode, ao mesmo tempo, torná-la invisível aos olhos 
do outro. Para Carolina a favela não é parte integrante da cidade. A favela é uma úlcera aberta no 
cenário urbano.
Favela, space and subject: A conl icting relationship
ABSTRACT:
h is paper aims to clarify the conl icting relationship that exists between the 
subject / area, center / periphery using as a reference the book Quarto de Despejo: 
diário de uma favelada (1963), Carolina Maria de Jesus. To think of the slums 
as a “socially empty space”, according to Zygmunt Bauman, it is necessary 
ro turn to the rel ections presentes in Liquid Modernity (2001), as well as the 
considerations on social invisibility of the sociologist Jessé de Souza, and the 
thought on territory, place and space developed by Rodério Haesbaert.
Keywords: Slum. Center. Conl ict. Invisibility. Carolina Maria de Jesus.
Notas explicativas
Professora do Programa de Pós-Graduação em Estudos Liretários da Faculdade de Letras da UFJF.
**
 Doutoranda em Letras/Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora, UFJF. Apoio i nanceiro 
CAPES.IPOTESI, JUIZ DE FORA, v.15, n.2, p. 51-62, jul./dez. 2011 61
A guerra do Paraguai foi um conl ito em que o Brasil, Uruguai e Argentina (formando a Tríplice Aliança) lutaram 
contra o Paraguai. Foi uma disputa por territórios estratégicos comercialmente. O Paraguai era a maior potência 
econômica e industrial da América Latina na época. E isso incomodava muito os ingleses que queriam expandir 
seus interesses comerciais sobre a América Latina. O Paraguai era um poderoso concorrente comercial dos ingleses. 
Então era de interesse da Inglaterra que houvesse o conl ito para que o Paraguai fosse aniquilado e enfraquecido. E 
assim aconteceu. A Inglaterra estimulou os atritos entre esses países latino-americanos para estourar o conl ito. Além 
disso, forneceu armas e auxílio i nanceiro para que Brasil, Uruguai e Argentina pudessem lutar e destruir o Paraguai. 
Terminada a guerra, o Paraguai estava destruído, arrasado. E a verdadeira vencedora da guerra foi a Inglaterra, que 
nem lutou, mas desenvolveu sua hegemonia no continente enfraquecendo seu rival Paraguai de forma irreversível.
O livro Os Sertões é dividido em três partes: A Terra, O Homem e A Luta. A Terra é uma descrição cientíi ca detalhada 
feita por Euclides da Cunha, mostrando todas as características do lugar, o clima, as secas, a terra, tudo eni m. A 
parte intitulada O Homem é descrita por um viés antropológico e sociológico. Aqui Cunha mostra os habitantes do 
lugar, sua relação com o meio, seu comportamento, crenças e costumes; mas i xa na i gura de Antônio Conselheiro, o 
líder de Canudos. Já em A Luta Euclides da Cunha, além de relatar as expedições enviadas a Canudos, relata também 
cenas as quais presenciou: a fome, a peste, a miséria, a violência e a insanidade da guerra. Retratou assim o absurdo 
de um massacre que começou por um motivo tolo – Antônio Conselheiro reclamando de um estoque de madeiras 
não entregue – isso gerou um conl ito sem precedentes tornando-se uma paranoia nacional, pois suspeitava-se que os 
“monarquistas” de Canudos, liderados por Bom Jesus Conselheiro, tinham apoio externo. No i nal, foi apenas um 
massacre violento, onde o lado mais fraco resistiu até o i m com seus derradeiros defensores – um velho, dois adultos 
e uma criança.
Etimologicamente, favela é um termo latino que signii ca pequena fava. Historicamente, é o nome de uma pequena 
colina de uma região da Bahia, de onde provieram os migrantes que se instalaram, pela primeira vez, no Rio de 
Janeiro, e ocuparam, na ocasião, uma pequena elevação, que, pela semelhança com a colina baiana, chamaram de 
favela. Daí o nome se estender a todas as aglomerações de barracos construídas de forma irregular.
Há vários trabalhos acadêmicos que abordam a formação das favelas. Entre eles o de Suzana Pasternak intitulado 
“Espaço e população nas Favelas de São Paulo”. Pasternak faz um levantamento sobre a população das favelas, 
quantos são e como vivem. Interessa-nos os números colhidos por ela. Em São Paulo julga-se que as primeiras favelas 
apareceram na década de 1940, onde pesquisas feitas pela Divisão de Estatística e Documentação da prefeitura 
de São Paulo enumeram informações sobre as favelas e favelados na Mooca (favela da Oratória), Lapa (na rua 
Guaicurus), Ibirapuera, Barra funda (favela Ordem e Progresso) e Vila Prudente (na zona leste, existente até hoje). 
“Em 1957 apurava-se na capital de São Paulo um total de 141 núcleos, com 8.488 barracos e cerca de 50 mil favelas” 
(FINEP/GAP, 1985, p. 66). In: PASTERNAK, Suzana. Espaço e População nas favelas de São Paulo. In: XIII 
Encontro Nacional de Estudos Populacionais, 2002, Ouro Preto, de 04 a 08 de nov. 2002.
Todas as citações referentes ao livro Quarto de despejo respeitam a escrita da autora Carolina Maria de Jesus. 
Referências
BAUMAN, Zygmunt. Tempo/Espaço. In.: Modernidade Líquida. Trad. Plínio Dentzien. Rio de 
Janeiro: Jorge Zahar, 2001, p. 115-122. 260p.
CUNHA, Euclides de. Os Sertões: Disponível em: http://www.euclidesdacunha.org.br. Acesso em: 
10 jan. 2011.
FERNANDES, Florestan. O negro no mundo dos brancos. São Paulo: Global, 2007, p. 25-36. 314p.
HAESBAERT, Rogério. O mito da desterritorialização. Do “i m dos territórios” à multiterritorialidade. 
Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2007, p. 19-98. 395p.
_. Territórios alternativos. São Paulo: Contexto, 2006, p. 81-100. 188p.
JESUS, Carolina Maria. Quarto de despejo: diário de uma favelada. Edição Popular, 1963. 160p.
PASTERNAK, Suzana. Espaço e População nas Favelas de São Paulo. USP/FAU. Disponível em: 
http://www.abep.nepo.unicamp.br/. Acesso em: 05 jan. 2011.
RODRIGUES, Arlete Moysés. Moradia nas cidades brasileiras. São Paulo: Contexto, 1994. (Col. 
Repensando a Geograi a). 74p.IPOTESI, JUIZ DE FORA, v.15, n.2, p. 51-62, jul./dez. 2011 62
SAID, Edward. História, literatura e geograi a. In: Rel exões sobre o exílio e outros ensaios. Trad. Pedro 
Soares. São Paulo: Companhia das Letras, 2003, p. 209-228. 352p.
SOUZA, Jessé. A invisibilidade da desigualdade brasileira. Belo Horizonte: UFMG, 2006, p. 09-19. 396 p.
TUAN, Yi Fu.  Espaço e Lugar: a perspectiva da experiência; Trad. Lívia de Oliveira. São Paulo: 
DIFEL, 1983, p. 179-198. 252 p.
VALLADARES, Lícia do Prado. A invenção da favela: do mito de origem a favela.com. Rio de Janeiro: 
Editora FGV, 2005, p. 22-73. 204 p.
WISSENBACH, Maria Cristina Cortez. Da escravidão à liberdade: dimensões de uma privacidade 
possível. In.: SEVCENKO, Nicolau (Org.). História da vida Privada no Brasil. Vol 3. São Paulo: 
Companhia das Letras, 1989, p. 49-60. 710 p.
Recebido em: 31 de maio de 2011
Aprovado em: 23 de agosto de 2011

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.