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quarta-feira

Sonhos de moça- por Valdir Dias



É possível que a pequena Isadora Faber tenha ensinado mais do que supõe sobre a comunicação entre as pessoas e sobre o exercício da atividade educacional. A dúvida fica por conta do quanto os profissionais destes setores souberam aprender com a atitude da catarinense.
Isadora tem 13 anos e estuda numa escola pública que deixa a desejar no quesito manutenção e estrutura. Há dois meses, ela criou uma comunidade no Facebook para divulgar aquilo que considerava precário ou irregular na instituição de ensino que freqüenta há sete anos.
Sua página ganhou 100 mil seguidores, mudanças positivas na escola e realçou nela o desejo de se tornar jornalista, no futuro. A exemplo da menina, que postou fotos de fios desencapados, portas sem fechaduras e troca excessiva de professores, outras experiências do tipo mostram problemas de outras escolas com a merenda, quadras esportivas, salas etc.
O gesto mostrou que o resultado prático para uma questão pode ser encontrado mediante uma simples troca de informações entre as pessoas. Vejo, reporto e cobro soluções. Portanto, existo. O episódio também induz a pensar que o jornalismo deixará de ser, em breve, o emaranhado de teorias filosóficas sobre semiótica e paradigmas que ninguém entende ao certo para que servem.
Até o Facebook e as demais redes sociais, alvos de críticas por prenderem mais a atenção dos jovens do que deveriam, pode mostrar o seu valor, desde que o desejo por cidadania esteja presente. No caso, a menina passa tempo demais para seu tamanho na rede social, mas faz isso com sonhos de moça, que anseia por mudanças e é suficientemente destemida para dizer isso em voz alta.
Inevitável será, daqui para frente, que pais, educadores e jornalistas estejam atentos, preparados e comprometidos com princípios éticos, mantendo afinidade com estes valores juvenis, para poder alertar as gerações que chegam sobre o bom uso de ferramentas tão eficientes de comunicação em massa. E o quanto elas nos ajudam a evoluir.
Valdir Dias
Jornalista

terça-feira

Imprensa destaca caso de estudante que denuncia problemas do colégio no Facebook



“O trabalho jornalístico somente é indesejável aos que têm algo a esclarecer e se recusam a fazê-lo”. Essa foi a mensagem postada por Isadora Faber, de 13 anos, no Facebook. A menina, que é aluna da 7ª série da Escola Básica Municipal Maria Tomázia Coelho, em Florianópolis, Santa Catarina, está causando repercussão com uma fan page chamada “Diário de Classe", que relata a situação da escola pública onde estuda. Destaque na rede social, a jovem concedeu entrevistas para diversos veículos de comunicação.
Com o sonho de ser jornalista, Isadora conversou com o Estadão e contou “o que acontece entre os muros da escola”. Sua mãe, Mel Faber, criticou a postura do colégio, defendeu a filha e lamentou as represálias. “Ela sofreu punição que talvez alguns jornalistas formados não tenham vivido”,contou.
Para o G1, a diretora do colégio afirmou que há muitas ações em que a escola é destaque, inclusive mostradas no Facebook. “Há problemas, mas procuramos sempre resolver. Temos uma equipe que cuida de várias escolas da rede. Temos um espaço democrático, que se efetiva nos conselhos de classe. Seria interessante se as pessoas participassem desses espaços. Aí sim poderíamos resolver os problemas corretamente", disse.
Levando em conta a repercussão do caso, Gazeta do Povo, do Grupo Paranaense de Comunicação (GRPCOM), revista Veja , portal Terra e IG apresentaram reportagens que falam sobre o sucesso da garota na rede, a criação da página, o conteúdo publicado e a posição da secretaria municipal de Educação. A página da jovem aluna reúne, até a publicação desta matéria, mais de 46 mil fãs. 

sábado

Contra ou a favor?

Marcio Brasil




Há uma lenda no jornalismo brasileiro de que Assis Chateaubriand estaria procurando emprego em um jornal, quando jovem. E que o editor, para testar a sua capacidade crítica o incumbiu de escrever um artigo sobre Jesus Cristo. "Contra ou favor?", teria perguntado Chateuabriand que, diante da indagação, conquistou o emprego. É fácil considerar prós e contras. Tanto é que num julgamento, existe o lado da defesa e o da acusação. E assim é em tempos de política. E o eleitor ali, como um jurado, avaliando o comportamento de cada lado. Há o lado que defende o que foi feito e considera o saldo como positivo. Há o outro lado (ou lados) que consideram que tá tudo feio, errado, mal feito e que o seu oponente é, com todo o respeito, um jaguara.
Assim, as discussões ganham aquele aspecto de "já vi esse filme". Deja vù. E, assim, perde-se tempo precioso para falar de coisas positivas. Iniciaram os programas políticos de rádio e TV. Até semana passada, o eleitor ouvia carros de som pela rua e recebia santinhos debaixo da porta ou entregues em suas mãos. Agora, a política entra sem pedir licença. Portanto, que os candidatos ajam com educação, pois estão dentro das casas alheias. Nada de falar mal da vida de ninguém, nada de falar mal da própria cidade em que vivem, dizendo que está tudo horrível e que só eles são a solução da lavoura. Que se discutam idéias, que se apresente conteúdo. As pessoas não querem mentiras e nem deseducação. Ninguém é totalmente bom e nem totalmente mau ou é infalível, nem o lado de lá ou o de cá do tabuleiro de xadrez. É fácil falar contra ou a favor de qualquer um. Até de Jesus Cristo.

Contra ou a favor CARLOS HEITOR CONY


RIO DE JANEIRO - Como em todas as demais profissões, o jornalista enfrenta, de tempos em tempos, uma arapuca da qual nem sempre pode se livrar. Foi o caso, por exemplo, da Copa do Mundo de 1998, em Paris. Na véspera do jogo final, entre o Brasil e a França, eu precisava mandar o meu texto para o fechamento do dia seguinte. O noticiário em si podia esperar o resultado do jogo, com a proclamação do campeão daquela Copa. Mas os comentários tinham de ser enviados antes, devido ao cronograma daquela edição.
Já enfrentara situações parecidas, quando fechava os números de Carnaval nas revistas em que trabalhava. Tinha de escolher a capa com a escola que venceria o desfile. O recurso era fazer duas ou três capas com as favoritas, às vezes dava certo.
No caso do jogo final daquela Copa, fiz a mesma coisa. Um texto em que o Brasil vencia e se sagrava mais uma vez campeão; e outro em que a França conseguiria seu primeiro título mundial. Mandei os dois para que o editor do caderno da Copa publicasse o texto adequado.
Esse tipo de arapuca agora se repete no caso do julgamento do mensalão. No fundo, é um jogo do qual não se pode prever o resultado, se justo, se injusto, se catimbado ou não. A cobertura das sessões do STF pode ser feita porque os noticiários a respeito são também diários, cobrindo os debates da véspera. O cronista tem de submeter-se à escala de sua periodicidade.
Mesmo assim, farei o que costumava fazer diante dessas arapucas: dois textos a respeito do resultado, repetindo conscientemente o episódio atribuído a Alcindo Guanabara (ele terminaria na ABL - Academia Brasileira de Letras) que faz parte da história da nossa imprensa. Numa Sexta-Feira da Paixão, o editor pediu-lhe que fizesse um artigo sobre Jesus Cristo. Alcindo perguntou: "Contra ou a favor?".

Não há bem que nunca acabe

Roberto Rodrigues

Neste 2012, consagrado pela ONU como o Ano Internacional das Cooperativas, estou me aposentando na Unesp de Jaboticabal, onde venho lecionando, há algumas décadas, a disciplina de cooperativismo no Departamento de Economia Rural: trata-se de aposentadoria compulsória determinada pela chegada dos 70 anos.
Felizmente, minha última turma foi boa, de modo que foi um prazer trabalhar com ela. Turmas são como safras: existem as boas, as más, as médias... E não há uma ou duas razões que determinem a qualidade delas: simplesmente são assim, e ponto final. Portanto, ter uma boa turma é sempre uma alegria, assim como é muito desagradável lidar com uma sem qualidades.
No entanto, a alegria que tive neste ano não foi plena, nem poderia ser. Da mesma forma como é um enorme prazer completar uma longa tarefa com algumêxito (e guardar no íntimo a boa sensação de trabalho realizado com inteireza), também fica o travo amargo do fim de um permanente prazer, o de formar gente para o agronegócio.
É mais ou menos como ler um livro do qual a gente gosta muito, mas que termina... Ou assistir a um filme muito especial, que também chega ao fim. A gente não quer que o livro ou o filme acabem, mas acabam. E a agradável sensação que dura a leitura ou a sessão do cinema é substituída pelo vazio com o final.
Essa foi a mistura de sentimentos deste final de carreira no magistério: um pouco de alegria, com a missão cumprida, mesclado com um pouco de nostalgia, de falta de chão, uma vaga noção da transitoriedade...
Mas, afinal, não é assim com tudo na vida? Uma amizade prazerosa que termina com a morte de um amigo; um amor profundo que desaparece como a "espuma que se desmancha na areia", como dizia Herivelto Martins; uma tarefa desafiadora que enfrentamos e vencemos; um jogaço da seleção brasileira de futebol... Tudo acaba, por melhor que seja enquanto dure, e fica um travo amargo, nostálgico, uma inútil esperança de que pode voltar... E não volta não, nunca mais, acabou, kaput...
O outro lado dessa doçura amarga é que toda tristeza também tem fim. Daí o velho ditado: "Não há mal que sempre dure nem bem que nunca acabe"...
Pois para mim acabou esse bem, essa delícia de ensinar e aprender com isso. Porque esse é o sentido da vida: aprender, para ensinar, e assim contribuir com a construção de um mundo melhor.
Feita essa especulação emotiva, volto ao cooperativismo, doutrina formidável cujo objetivo é corrigir o social através do econômico. Em outras palavras, através da cooperação o que se busca é prestar serviço às pessoas de maneira que elas tenham melhores ganhos financeiros e ascendam socialmente.
De vez em quando aparece um aluno que soube de um gerente de cooperativa ou mesmo de um diretor ou de um presidente que teria dado um "golpe" na sua cooperativa ou algo parecido com isso.
Costumo responder fazendo uma comparação primária: cooperativismo é doutrina, cristianismo também é; o instrumento do cooperativismo é a cooperativa, a do cristianismo é a igreja. E quem toca a cooperativa e a igreja é sempre gente.
A mídia às vezes publica a história de um padre pedófilo. Mas isso não significa que o cristianismo não presta. Quem não presta é aquela pessoa que "representa" a igreja,
e não a doutrina. A mesma coisa serve para o cooperativismo: um mau dirigente não destrói a doutrina -esta continua sendo boa, excelente.

Se assim não fosse, não haveria no mundo cerca de 1 bilhão de pessoas filiadas a algum tipo de cooperativa. Se cada uma tiver três dependentes, são 4 bilhões de terráqueos ligados ao movimento cooperativista. Não sei se alguma religião tem tantos seguidores...
Aliás, o cooperativismo -doutrina- está assentado sobre sete princípios universais, quase dogmáticos, que os líderes vivem repetindo o tempo todo: seriam uma espécie de "mandamentos".
Ora, os pregadores da igreja repetem, há 2.000 anos, eternos sermões aos domingos. E ainda assim não é todo cristão que vai ao céu...
Roberto Rodrigues
Roberto Rodrigues é coordenador do Centro de Agronegócio da FGV e professor do Departamento de Economia Rural da Unesp-Jaboticabal. Foi ministro da Agricultura (governo Lula). Escreve aos sábados, a cada duas semanas, na versão impressa de "Mercado".

quinta-feira

Diploma em jornalismo: uma exigência que interessa à sociedade


O principal argumento, entre os tantos que se pode levantar para a exigência do diploma de curso de graduação de nível superior para o exercício profissional do jornalismo, é o de que a sociedade precisa, tem direito à informação de qualidade, ética, democrática. Informação esta que depende, também, de uma prática profissional igualmente qualificada e baseada em preceitos éticos e democráticos. E uma das formas de se preparar, de se formar jornalistas capazes a desenvolver tal prática é através de um curso superior de graduação em jornalismo.
Por isso, de todos os argumentos contrários a esta exigência, o que culpa a regulamentação profissional e o diploma em jornalismo pela falta de liberdade de expressão na mídia talvez seja o mais ingênuo, o mais equivocado e, dependendo de quem o levante, talvez seja o mais distorcido, neste caso propositalmente.
Qualquer pessoa que conheça a profissão sabe que qualquer cidadão pode se expressar por qualquer mídia, a qualquer momento, desde que ouvido. Quem impede as fontes de se manifestar não é nem a exigência do diploma nem a regulamentação, porque é da essência do jornalismo ouvir infinitos setores sociais, de qualquer campo de conhecimento, pensamento e ação, mediante critérios como relevância social, interesse público e outros. Os limites são impostos, na maior parte das vezes, por quem restringe a expressão das fontes –seja pelo volume de informações disponível, seja por horário, tamanho, edição (afinal, não cabe tudo), ou por interesses ideológicos, mercadológicos e similares. O problema está, no caso, mais na própria lógica temporal do jornalismo e nos projetos político-editoriais.
Nunca é demais repetir, também, que qualquer pessoa pode expor seu conhecimento sobre a área em que é especializada. Por isso, existem tantos artigos, na mídia, assinados por médicos, advogados, engenheiros, sociólogos, historiadores. E há tanto debate sobre os problemas de tais áreas. Além disso, nos longínquos recantos do país existe a figura do provisionado, até que surjam escolas próximas. Deve-se destacar, no entanto, que o número de escolas cobre, hoje, quase todo o território nacional.
Diante disso, é de se perguntar como e por que confundir o cerceamento à liberdade de expressão e a censura com o direito de os jornalistas terem uma regulamentação profissional que exija o mínimo de qualificação? Por que favorecer o poder desmedido dos proprietários das empresas de comunicação, os maiores beneficiários da não-exigência do diploma, os quais, a partir dela, transformam-se em donos absolutos e algozes das consciências dos jornalistas e, por conseqüência, das consciências de todos os cidadãos?
A defesa da regulamentação profissional e do surgimento de escolas qualificadas remonta ao primeiro congresso dos jornalistas, em 1918, e teve três marcos iniciais no século 20: a primeira regulamentação, em 1938; a fundação da Faculdade Cásper Líbero, em 1947 (primeiro curso de jornalismo do Brasil); e o reconhecimento jurídico da necessidade de formação superior, em 1969, aperfeiçoado pela legislação de 79. Foi o século (especialmente na segunda metade) que também reconheceu no jornalismo –seja no Brasil, nos Estados Unidos, em países europeus e muitos outros- um ethos profissional. Ou seja, validou socialmente um modo de ser profissional, que tenta afastar a picaretagem e o amadorismo e vincular a atividade ao interesse público e plural, fazendo do jornalista uma pessoa que dedica sua vida a tal tarefa – e não como um bico.
Com tal perspectiva, evoluíram e se consolidaram princípios teóricos, técnicos, éticos e estéticos profissionais, disseminados por diferentes suportes tecnológicos, como televisão, rádio, jornal, revista, internet. E em diferenciadas funções, do pauteiro ao repórter, do editor ao planejador gráfico, do assessor de imprensa ao fotojornalista. Para isso, exige-se profissionais multimídia que se relacionem com outras áreas e com a realidade a partir da especificidade profissional; que façam coberturas da Ciência à Economia, da Política aos Esportes, da Cultura à Saúde, da Educação às questões agrárias com qualificação ética e estética, incluindo concepção teórica e instrumental técnico a partir de sua área. Tais tarefas incluem responsabilidade social, escolhas morais profissionais e domínio da linguagem especializada, da simples notícia à grande reportagem.
A informação jornalística é um elemento estratégico das sociedades contemporâneas. Por isso é que o Programa de Qualidade de Ensino da Federação Nacional dos Jornalistas - debatido, aperfeiçoado e apoiado pelas principais entidades da área acadêmica (como Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação; Abecom - Associação Brasileira de Escolas de Comunicação; Enecos-Executiva Nacional dos Estudantes de Comunicação; Compós - Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação; e Fórum de Professores de Jornalismo)– defende a formação tanto teórica e cultural quanto técnica e ética. Tal formação deve se expressar seja num programa de TV de grande audiência ou numa TV comunitária, num jornal diário de grande circulação ou num pequeno de bairro, num site na Internet ou num programa de rádio, na imagem fotojornalística ou no planejamento gráfico.
É por isso que, num Curso de Jornalismo, é possível tratar de aspectos essenciais às sociedades contemporâneas e com a complexidade tecnológica que os envolve, incluindo procedimentos éticos específicos adequados – do método lícito para obter informação à manipulação da imagem fotográfica, do sigilo da fonte ao conflito entre privacidade e interesse público, por exemplo. É na escola que há laboratórios de telejornalismo, radiojornalismo, fotojornalismo, planejamento gráfico, jornal, revista, webjornalismo e outros. A escola pode formar profissionais para atuar em jornalismo - e não para uma ou outra empresa. Pode formar profissionais capazes de atuar em quaisquer instituições, setores ou funções. É a formação que também permite o debate e novas experiências.
As escolas não são culpadas, certamente, pelo fato de algumas empresas reduzirem a atividade profissional a aspectos simples ou simplórios.
Por isso, mesmo onde a obrigatoriedade do diploma não existe, como em países europeus, cresce o número de escolas de jornalismo. É por isso que o Conselho Europeu de Deontologia (dever-ser) do Jornalismo, aprovado em 1993, estipulou, em seu artigo 31, que os jornalistas devem ter uma adequada formação profissional. E que surgem, a cada ano, em muitos países, documentos reforçando a necessidade de formação na área.
Além de tudo, há uma discussão bastante reducionista, uma espécie de a favor ou contra. Ora, diploma é uma palavra. Trata-se, no entanto, de palavra que exprime outras duas: formação profissional, atestada por um documento que deve valer seu nome. Há um lugar, chamado escola, que sistematiza conhecimentos e os vincula a outras áreas a partir da sua. A regulamentação e a formação são o resultado disso, que se manifesta em exigências como a do registro prévio para o exercício da profissão. Por isso, a regulamentação brasileira para o exercício do jornalismo é um avanço, não um retrocesso.
O pensar e o fazer jornalístico, resultados de um ethos profissional – essencial à identidade de categoria e de profissão e socialmente relevante- não pode voltar atrás. A Fenaj defende a formação profissional em cursos de jornalismo de graduação com quatro anos e, no mínimo, 2.700 horas-aula, como já apontavam as diretrizes curriculares aprovadas após inúmeros debates e congressos na área. A formação em Jornalismo, que deve ser constante e aprimorada durante toda a vida, é a base inicial para o exercício regulamentar da atividade. A tudo isso chamamos profissão Jornalismo. E não nos parece pouco.
Beth Costa,Presidente da Federação Nacional dos Jornalistas

quarta-feira

Senado aprova volta da obrigatoriedade do diploma para jornalistas


Redação Portal IMPRENSA 
Na última terça-feira (7/8), o Senado aprovou a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 33/2009, conhecida como PEC dos Jornalistas. Aprovada em segundo turno por 60 votos a 4, a proposta torna obrigatório o diploma de curso superior de Comunicação Social, habilitação em jornalismo, para o exercício da profissão, informou a Agência Senado.  A matéria agora segue para exame da Câmara dos Deputados.


A PEC dos Jornalistas acrescenta novo artigo à Constituição, o 220-A, estabelecendo que o exercício da profissão de jornalista é “privativo do portador de diploma de curso superior de Comunicação Social, com habilitação em jornalismo, expedido por curso reconhecido pelo Ministério da Educação”.

Autor da proposta, o senador Antônio Carlos Valadares (PSB-SE) nega que a PEC tenha o objetivo de confrontar a decisão do STF.  O parlamentar diz que pretende estabelecer algo previsto constitucionalmente. "Nossa Carta Magna tem como princípio fundamental o direito do ofício e profissão. É preconceito colocar uma profissão à margem da lei, o único profissional que não tem o seu direito reconhecido."

O texto estabelece que não será exigido diploma para o colaborador, aquele que "sem relação de emprego produz trabalho de natureza técnica, científica ou cultural, relacionado à sua especialização." A proposta também assegura que os jornalistas sem diploma que atuam na área continuem exercendo normalmente as suas funções, desde que comprovem que já trabalhavam antes da aprovação da PEC. 

Debate
Para o senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), único a argumentar contra, o diploma foi instituído por decreto da ditadura militar e perdeu sua razão de existir. Favorável à PEC, a senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) defendeu a matéria ao afirmar que a "formação dos profissionais em jornalismo é tão importante quanto a formação de qualquer outro profissional", disse.

Para o senador Wellington Dias (PT-PI), a PEC é a garantia de que o profissional deve "assumir a responsabilidade" profissional. "Naquilo que é específico, típico do jornalista, o jornalista. Assim como o que é específico do médico é feito pelo médico."

Decisão do STF
A votação da PEC é uma resposta à decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), de junho de 2009, que derrubou a necessidade do diploma para exercício da profissão de jornalista. Na época, a maioria dos ministros entendeu que restringir o exercício do jornalismo a quem tem diploma afronta o princípio constitucional da liberdade de expressão. A PEC havia sido aprovada pelo Senado, em primeiro turno, em novembro de 2011. Desde então, esperava análise dos parlamentares. Quando o STF derrubou a exigência do diploma, 

terça-feira

Encaramos 24 personalidades para entender o que torna a vida mais rica20.04.2012 | Ilustração Felipe Gonzalez


Lucrar é obter – ou levar – vantagem. é fazer o bolo crescer para depois dividir. ou comer sem dividir com ninguém. Encaramos 24 personalidades para entender o que torna a vida mais rica

Lucro é a razão pela qual as pessoas se arriscam. É o prêmio para quem faz algo diferente. Ou é o jeito mais simples de apurarmos a diferença entre o que plantamos e o que colhemos.
Luiz Gustavo Medina, economista e apresentador do programa Fim de Expediente (Rádio CBN)

No mercado de arte, lucro é algo difícil de mensurar, principalmente no momento da compra. A grande sacada do colecionador é descobrir um jovem talento que poderá ter uma grande carreira. É ver o que ninguém ainda viu. As pessoas não compram arte pensando apenas em lucrar. Compram para alimentar o espírito, estimular a reflexão, os sentidos e conviver com pensamentos, ideias, conceitos distintos ou semelhantes aos seus. Um amigo tem uma frase genial: “Eu nunca comprei arte como investimento, mas arte foi o melhor investimento que eu já fiz”.
Fernanda Feitosa, diretora da SP Arte

No candomblé, o orixá ligado ao lucro, ao comércio, à ambição e à prosperidade é Exu. Brincalhão, Exu é considerado o mais humano de todos os orixás. Se a pessoa está passando por alguma dificuldade financeira, ela faz uma boa oferenda com comidas e bebidas a Exu para receber ajuda.
Márcio de Iansã, pai de santo

Todos podem lucrar quando uma cidade valoriza o planejamento urbano, mas os maiores beneficiários são seus próprios moradores. A cidade é um negócio lucrativo para inúmeros agentes econômicos: comerciantes, industriais, promotores imobiliários, empresários de ônibus, empreiteiros de obras públicas, concessionários de serviços de limpeza pública... Eles “vivem” da cidade, mas suas atividades precisam ser reguladas para não afetar a qualidade de vida dos que moram e trabalham, inclusive desses próprios empresários. Nos países pobres ou muito desiguais, como é o caso do Brasil, as pessoas geralmente não dão muita importância para o planejamento, cujos resultados aparecem apenas a médio e longo prazo. Prevalece uma visão imediatista, que acaba por prejudicar o futuro da cidade. Como o espaço urbano é lócus de muitos interesses particulares, o planejamento urbano precisa ser participativo, ou seja, garantir que todos possam debater a cidade que querem. Não por acaso, as melhores cidades do mundo são as que foram planejadas e, ainda mais, as que são geridas de forma participativa. Quem lucra é o cidadão.
Nabil Bonduki, arquiteto, urbanista e professor da FAU-USP

Lucro é ter um ganho de vida estável em que a renda seja suficiente para a sobrevivência.
Gilberto Alves dos Santos, pintor de paredes

Lucro é valorizar jogadores de ontem. É também ser feliz sendo devidamente remunerado em um belo ambiente profissional, ou poder estar em casa – infelizmente por tão pouco tempo – ao lado de esposa, filhos, noras e netas. No jornalismo esportivo, lucro é fazer uma bela entrevista, contar boas histórias (sou bom nisso), dar bom retorno às emissoras de rádio e TV que me contratam com bons índices no Ibope. É ainda ouvir um diretor dizer “aos 60 anos você parece um juvenil revelação, fazendo 12 horas diretas de rádio e TV com qualidade aos domingos!”.
Milton Neves, colunista e apresentador esportivo

Quando o lucro é fruto de atividades ilícitas, do crime organizado, merece total reprovação do Estado e da sociedade. Ele cria uma economia paralela, não contabilizada e não tributada. Beneficia uma minoria e causa profundos danos à maioria. Fomenta o fortalecimento da própria criminalidade, pois nela é reinvestido. Em atividades lícitas, dentro da livre iniciativa privada, desde que tenha uma finalidade social, o lucro é indispensável para a empresa e para a sociedade.
Odilon de Oliveira, juiz federal, recordista em condenar traficantes, alvo constante de ameaças de morte

Lucro é bom quando todo mundo sai lucrando, inclusive o planeta. Por isso sempre digo que o lucro não pode ser medido apenas no aqui e agora, mas na história. Não se pode sacrificar recursos de milhares de anos pelo lucro de algumas décadas ou alguns anos. Não se pode vê-lo de uma forma atemporal porque o prejuízo também é medido na história. Sem o lastro da ética ou dos valores, o lucro cria bolhas de vantagens e prosperidade que não têm sustentação. É essencial essa perspectiva.
Marina Silva, líder socioambiental

Lucro pra mim é grana. O dinheiro traz felicidades, tudo que existe de bom no mundo é o dinheiro. Não adianta você falar que não, você não pode pôr o pé pra fora de casa que já tá pagando. Quando você chegar na minha idade [78 anos], vai ver que o dinheiro é muito bom, é 99% felicidade. Esse negócio de dizer que dinheiro não traz felicidade é conversa mole, não vai atrás disso não. Saúde é maravilhoso, mas tenho uma dor no joelho e penso: estar com essa dor e muita grana é melhor do que sem a dor e sem grana.
Conradino Milton Scotti, vendedor

Felipe Gonzalez

Para mim, lucro é um meio e não um fim. Apesar de necessário em qualquer atividade econômica, o lucro é só uma ferramenta. Se ele não tivesse existido no meu passado – ou se não acontecer mais no futuro – não seria possível atuar como investidor-anjo [aquele que aposta em uma empresa que está começando]. Uso minha experiência, meu tempo e capital para participar dos sonhos de empreendedores que tentam mudar o mundo com suas criações. Assim, satisfaço os critérios que sempre uso no trabalho: lucro, qualidade de vida e aprendizado. Como investidor-anjo, minha qualidade de vida se une a um aprendizado constante, e o lucro não só permite continuar o trabalho como também se torna a recompensa por tentar criar algo maior do que eu.
Yuri Gitahy, investidor-anjo, fundador da Aceleradora

Meu lucro é estar na televisão e fazer o que gosto. Qualquer pessoa que faz o que gosta já está lucrando, mesmo que não ganhe no lado financeiro. Aliás, no lado financeiro de lucro eu sou péssima! Minha pior matéria é economia, sou igual criança. Não entendo nada, minha irmã cuida de tudo pra mim. E em nenhuma circunstância faço as coisas pensando se estou saindo no lucro ou no prejuízo. Na televisão, mais do que a audiência, acho que lucro é a repercussão de algo que fiz.
Sabrina Sato, apresentadora

Depois que fiz o filme Quem se importa [documentário sobre empreendedores sociais ao redor do mundo, com entrevistas de 18 entre os maiores nomes do setor social] aprendi que há pessoas brilhantes com ideias inovadoras para solucionar os grandes problemas da humanidade. E que é possível SIM acabar com os maiores problemas do mundo. Percebi que o empreendedor de negócios e o empreendedor social têm o mesmo espírito. Nasceram da mesma semente de inquietação e capacidade de implementar suas ações. Mas, enquanto o empreendedor de negócios visa o lucro dos acionistas, o empreendedor social busca o lucro do bem-estar comum, do desenvolvimento da comunidade ao seu redor.
Mara Mourão, diretora e roteirista

A raiz latina da palavra “lucro” significa tanto “proveito e ganho” quanto “avareza, cobiça, viver à custa do outro”. Nesse sentido, os ensinamentos de Jesus Cristo tratam o lucro como uma prática desumanizadora. Em inglês, “lucro” é “profit”, que vem do latim “proficere”, que significa progredir, ter sucesso – o que pode nos levar à proposta da teologia da prosperidade, aquela heresia que não tem nada a ver com o estilo de vida dos seguidores de Jesus. O fato é que a cultura do lucrar em detrimento do outro – conscientemente ou não, direta ou indiretamente – não coaduna com a proposta de humanidade defendida por Jesus. Para o cristão, bênção não é sinônimo de prosperidade financeira. Muitas vezes, riqueza e lucro são quase antônimos das bênçãos espirituais. Quem tem o outro como causa não precisa de novas causas. O ensino de Jesus é importante porque aponta a utopia possível para o homem, na qual o lucro deixa de ser meu e passa a ser nosso.
Levi Araújo, teólogo, membro do Fórum Cristão de Profissionais, São Paulo

Quem surfa já está no lucro desde a primeira onda, basicamente ganha a recompensa ali. Financeiramente, acho que hoje em dia tem muita gente no surf penando pra ter lucro. O lance é que o surf lida com a emoção das pessoas, então é um mercado um pouco fora do padrão. Eu diria que 70% das pessoas envolvidas com o surf não têm lucro, fazem por amor. Os outros 30%, as empresas, associações, escolas, de fato conseguem tirar algum lucro financeiro disso. Mas o surfista em si já tem o lucro dele, ele pega onda. Ele até gasta pra fazer isso. Gasta não, ele investe. O retorno vem em forma de onda.
Teco Padaratz, surfista e músico

Eu quase morri duas vezes, então tudo o que veio depois disso foi lucro. Na primeira, em 2001, fiquei 23 dias na UTI com uns problemas horríveis. Quando saí do hospital fui fazer uma turnê e comecei a detonar tudo que eu detonava antes. Quando voltei pro Brasil tive uma overdose de speedball [mistura de heroína ou morfina com cocaína ou metanfetamina] e voltei pra mesma UTI, quase morri de novo. A partir daí, tudo foi lucro. Meus filhos, minha mulher, minha casa, minha carreira... é tudo lucro, porque já era pra eu ter morrido.
João Gordo, rato de porão

Lucro é tudo o que você consegue ganhar de qualquer experiência, tanto financeiramente quanto emocionalmente, sendo este último o mais valioso para mim!
Brunette Fraccaroli, mulher rica

Lucro é quando eu compro essa folha de Zona Azul por R$ 2 e vendo por R$ 3.
João dos Santos, vendedor de Zona Azul

Lucrar, em qualquer hipótese, é conseguir usufruir de seu ganho plenamente sem culpa, com total gozo do crescimento. Ah, eu escrevi um livro de 300 páginas sobre esoterismo e 2012. Se interessar à Trip, me fale, OK?
Dhomini, vencedor do Big Brother Brasil 3 (2003)

Depende da referência. A maior riqueza que existe é o quanto a gente conhece de si, o que está dentro da gente. Se você está autossatisfeito, esse é o maior lucro, a maior dádiva que o homem pode ter é a felicidade interior.
Boddhana Tattva, monge Hare Krishna e vendedor de incensos

Profissionalmente, lucro para mim seria a diminuição da criminalidade. Servir a população pra mim é lucro, porque somos pagos para isso.
André Ricardo, policial

No início, bandas como Deep Purple, Black Sabbath e Led Zeppelin me pareciam mais preocupadas em solidificar um novo estilo do que em vender uma imagem. O primeiro “comerciante” foi o Kiss, com aquela produção toda e visão empresarial. Mas ainda assim o lucro parecia mais a consequência do que a causa de tudo. Hoje, com as gravadoras à deriva, começou um canibalismo artístico em busca do lucro a qualquer preço. Bandas se tornaram “elefantes brancos” a serem sustentados. Talvez o Iron Maiden seja um exemplo, vivendo fiado na marca poderosa que possui. Quando começamos com o Viper, em meados dos anos 1980, nosso sonho era gravar um disco na Europa e fazer turnê no exterior. Quinze anos depois, já sentia as decisões artísticas submetidas ao business. A história da minha segunda banda, o Angra, empresariada pela revista Rock Brigade, ilustra isso. Hoje me arrependo daquilo. Gostaria muito de saber aonde teríamos chegado sem os privilégios que a revista nos dava.
Andre Matos, ex-vocalista das bandas Viper, Angra e Shaman, atual Andre Matos Band

Lucro para mim é quando eu me divirto, me sinto bem e à vontade, fazendo as pessoas felizes com meu trabalho – e ainda ganho dinheiro com isso. Para mim, ganhar dinheiro mas não ter essas sensações ao mesmo tempo é a mesma coisa que sair no prejuízo. O lucro não é só o dinheiro, ao contrário do que a maioria pensa. Sem satisfação não pode haver lucro. No meu trabalho o maior lucro é ser reconhecido como um distribuidor de entretenimento, diversão, credibilidade e felicidade. É ter seu esforço, talento e trabalho em equipe reconhecidos por meio da manifestação espontânea das pessoas que assistem ao programa simplesmente porque se sentem bem.
Britto Jr., apresentador do reality show A Fazenda

Lucro pra mim é viver bem sem atropelar ninguém. É viver sem lucrar com a exploração ou o trabalho escravo de outras pessoas.
Rappin Hood, rapper

A tradição judaica é pioneira em estabelecer uma ética para a questão econômica, ao responsabilizar as atividades humanas, mesmo as mais mundanas, por trazer consequências espirituais. Por um lado o judaísmo estabeleceu as primeiras regulamentações aos juros e ao lucro, afirmando responsabilidades sociais na atividade econômica; por outro, reconheceu que o lucro e os juros são inerentes à atividade econômica e que qualquer economia que não contemple isso ficará paralisada pela falta de crédito e de disposição para investimento. Os registros rabínicos mostram uma constante batalha entre o desejo de uma atividade econômica seguir caminhos “selvagens”, marcados pela ganância e cobiça, e a necessidade de instituições coletivas que restrinjam esse movimento. Os mestres sabiam dessa máxima paradoxal: riqueza coletiva advém de restringir e regular riquezas individuais, ao mesmo tempo que a riqueza coletiva depende da riqueza individual.
Nilton Bonder, rabino e rosh da Congregação Judaica do Brasil, Rio de Janeiro


DepoimentosAnabelle Custodio, Flavia Fraccaroli, Lia Hama, Lino Bocchini, Mariana Morais, Olivia Nachle e Ricardo Alexandre
Foto: Felipe Gonzalez
Foto: Felipe Gonzalez
“Lucro é valorizar jogadores de ontem” milton Neves, colunista e apresentador esportiv