RIO DE JANEIRO - Como em todas as demais profissões, o jornalista enfrenta, de tempos em tempos, uma arapuca da qual nem sempre pode se livrar. Foi o caso, por exemplo, da Copa do Mundo de 1998, em Paris. Na véspera do jogo final, entre o Brasil e a França, eu precisava mandar o meu texto para o fechamento do dia seguinte. O noticiário em si podia esperar o resultado do jogo, com a proclamação do campeão daquela Copa. Mas os comentários tinham de ser enviados antes, devido ao cronograma daquela edição.
Já enfrentara situações parecidas, quando fechava os números de Carnaval nas revistas em que trabalhava. Tinha de escolher a capa com a escola que venceria o desfile. O recurso era fazer duas ou três capas com as favoritas, às vezes dava certo.
No caso do jogo final daquela Copa, fiz a mesma coisa. Um texto em que o Brasil vencia e se sagrava mais uma vez campeão; e outro em que a França conseguiria seu primeiro título mundial. Mandei os dois para que o editor do caderno da Copa publicasse o texto adequado.
Esse tipo de arapuca agora se repete no caso do julgamento do mensalão. No fundo, é um jogo do qual não se pode prever o resultado, se justo, se injusto, se catimbado ou não. A cobertura das sessões do STF pode ser feita porque os noticiários a respeito são também diários, cobrindo os debates da véspera. O cronista tem de submeter-se à escala de sua periodicidade.
Mesmo assim, farei o que costumava fazer diante dessas arapucas: dois textos a respeito do resultado, repetindo conscientemente o episódio atribuído a Alcindo Guanabara (ele terminaria na ABL - Academia Brasileira de Letras) que faz parte da história da nossa imprensa. Numa Sexta-Feira da Paixão, o editor pediu-lhe que fizesse um artigo sobre Jesus Cristo. Alcindo perguntou: "Contra ou a favor?".
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