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quarta-feira

Os opostos se atraem, mas não se entendem






 Flávio Gikovate 

É voz corrente, que nos relacionamentos afetivos, os opostos se atraem. Diante do fato, a gente se posiciona de forma curiosa: como sempre ouvimos falar disso, consideramos a afirmação absolutamente verdadeira. 
Não duvidar de sua lógica parece nos conduzir a um porto seguro e acabamos acreditando que o fenômeno é inevitável.

Por acaso alguém já se questionou a respeito? Afinal de contas por que os opostos se atraem? Trata-se de uma fatalidade, de uma lei da natureza que nos leva a bons resultados? Acho muito importante assumir uma atitude crítica e de reflexão em torno dos problemas do amor, pois é a emoção que mais dor e sofrimento nos tem causado. 
São raras as pessoas realmente felizes e realizadas nessa área. Devem existir muitos erros e ignorância em relação ao amor. Aliás, é só de algumas décadas para cá que os profissionais de psicologia – e, ainda hoje, poucos entre eles – começaram a se interessar pelo assunto, até então reservado aos poetas.

Gostaria de externar de modo categórico a minha opinião, fundamentada em mais de 26 anos de experiência como psicoterapeuta: os opostos se atraem, mas nem por isso combinam bem. 
O resultado desse tipo de união não é obrigatoriamente um sucesso. Pessoas muito diferentes vivem brigando e se irritando uma com as outras. 
Temperamentos e gostos antagônicos dificultam a vida em comum. Durante o período de namoro, os obstáculos existem, mas não são tão importantes, uma vez que são raras as coisas práticas compartilhadas. Após o casamento, porém, as divergências infernizam o cotidiano. Como encaminhar a educação dos filhos se os pontos de vista são tão diferentes? Como planejar a economia doméstica, a ordem dentro de casa, as viagens de férias?

Na prática, ocorre o seguinte: os opostos se atraem, mas na rotina da vida em comum as contradições se acirram. Começa então a tarefa de cada um tentar modificar o outro. 
O marido quer moldar a mulher de acordo com o seu modo de ser; a mulher deseja que o marido a compreenda e se aproxime dos seus pontos de vista. Será que isso é possível? Não deveriam diminuir as diferenças com o convívio? Deveriam, mas não diminuem, talvez por causa do medo de ver o encantamento amoroso desaparecer. 
Sim, porque afinal de contas os namorados se sentiram atraídos exatamente por serem pólos opostos. Se ficarem parecidos, não acabará o amor? Os casais convivem por anos, sempre se desentendendo, sempre procurando fazer do outro um semelhante e só conseguem agravar as diferenças e piorar as brigas.

Não deixa de ser ironia que a gente se sinta fascinado por pessoas com as quais não teremos um bom convívio. Esse fenômeno é responsável por um enorme número de uniões infelizes e que, hoje, acabam em divórcio. Cabe indagar: a atração por opostos é inevitável? 
Acho que não, apesar de ser muito comum, especialmente na adolescência. Considero fundamental entendermos as razões que levam a esse tipo de encantamento. 
Conhecendo-as, poderemos evitar o erro e nossas chances de sucesso no amor aumentarão bastante.

A principal causa do magnetismo entre opostos é, sem dúvida alguma, a falta ou diminuição da auto-estima. Quando não estou satisfeita com o meu modo de ser, procurarei alguém que seja completamente diverso. Se eu for introvertido e tímido, a tendência será me apaixonar por uma pessoa extrovertida e sem inibição. 
Com o tempo, o que suscitava minha admiração e era uma qualidade se tornará fonte de irritação, mas no início ficarei encantado. 
Ao ter o outro, tenho a extroversão que me faltava. Sinto-me mais completo. 
Tudo muito lógico na teoria. Na prática, as diferenças nos desagradam, dificultam nossas vidas, criam barreiras e resistências cada vez maiores. 
Elas são responsáveis pelos atritos constantes e pelas brigas normais entre marido e mulher. Será que são mesmo normais?

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