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sexta-feira

Por que escrever?


Eis o dilema indubitável que atormenta os corações dos “seres escreventes”.
Primeiramente, defino esse tal sujeito! Não me chamarei de escritora ou autora porque creio que isso traz uma certa hierarquização, um certo endeusamento e uma certa pomposidade de quem escreve para quem lê e isso me incomoda indiscutivelmente. Chamarei-me, então, de “ser escrevente” que, para mim, é oriundo de um ser pensante obstinado e incansável na ação de escrever.
Tento responder à pergunta inicial. Contradições, imprevisibilidades, ambigüidades, distração, prazer, buscas e encontros, são termos adjacentes à ação do meu escrever e isso me conduz ao meu encontro e ao encontro com o outro, intermediado de estranhas e inexplicáveis descobertas. Não é unilateral! Poucas coisas dão-me tanto prazer quanto escrever. Não farei analogias com isso, pois alguns confundirão com algumas outras obscenidades, libertinagens e imoralidades. Reduzir o ato de escrever apenas ao hedonismo seria confiná-lo a restritas possibilidades. O prazer existe também e muito, mas não é apenas isso! Vamos somar e não subtrair!
Sou um ser romântico e sonhador e, por isso, antes de tudo, faço isso com muito amor e muita paixão. Aquela velha frase que não me lembro bem, mas que é mais ou menos assim: “que tem que ter amor em tudo que se faz”. Escrever é uma relação de amor e apetece de uma certa elaboração, racionalidade e objetividade. Não olhe torto pra essa frase e não seja pessimista! Acha isso incompatível com o amor? Veja tais expressões com uma certa positividade! Elaboração porque exige lidar com minuciosidades da vida e do ser humano, estabelecendo um certo rigor, racionalidade porque sempre se tenciona algo quando se escreve e objetividade porque há sempre um propósito/um fim para isso.
Tirou todo o romantismo? Claro que não!!! Calma!!! Não eximi o amor disso tudo! Quem disse que uma coisa vai anular a outra? Tira esse pensamento de que tudo tem que ser uma coisa ou outra! De onde tirou isso? Tá bom! Seria muito mais fácil se fosse cara ou coroa, contudo, não é assim que as coisas acontecem na realidade. A beleza da vida está nessa loucura indefinida e variada que transcende todas as esferas da vida. Sonhadora, romântica e, também, realista! Somos seres plurais, diversos, ambíguos, contraditórios e imprevisíveis e em tudo quase há essa tensão. O amor existe!
Na dificuldade de definir amor, recorramos à sua origem: Amor, do latim, amor,óris, o seu termo agrega definições de “amizade, dedicação, afeição, ternura, desejo grande, paixão, objeto amado”. Tudo isso está presente no ato de escrever. Escrever é quase como amar alguém! São encontros e desencontros, conflitos e entendimentos, felicidades e tristezas, dúvidas e certezas… No final tudo dá certo e todo mundo é feliz! Uma amálgama de coisas! Diriam que possui muitos significados. E fazendo um empréstimo de Drummond “A perfeita maneira de saber-se amado:/Amor na raiz da palavra”. Só pra finalizar, escrever também é “colocar a boca no trombone”! Expressão! Canção! Escrevo a partir do que penso e acredito, não necessariamente nessa ordem. Na escrita eu falo o que quero! Expresso como e da forma que quiser. Posso até lhe confundir e falar o que não quero!
Por isso tudo escrevo!
Cristina Aparecida Vilas Bôas.

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