Primeiramente, defino esse tal sujeito! Não me chamarei de escritora ou autora porque creio que isso traz uma certa hierarquização, um certo endeusamento e uma certa pomposidade de quem escreve para quem lê e isso me incomoda indiscutivelmente. Chamarei-me, então, de “ser escrevente” que, para mim, é oriundo de um ser pensante obstinado e incansável na ação de escrever.
Tento responder à pergunta inicial. Contradições, imprevisibilidades, ambigüidades, distração, prazer, buscas e encontros, são termos adjacentes à ação do meu escrever e isso me conduz ao meu encontro e ao encontro com o outro, intermediado de estranhas e inexplicáveis descobertas. Não é unilateral! Poucas coisas dão-me tanto prazer quanto escrever. Não farei analogias com isso, pois alguns confundirão com algumas outras obscenidades, libertinagens e imoralidades. Reduzir o ato de escrever apenas ao hedonismo seria confiná-lo a restritas possibilidades. O prazer existe também e muito, mas não é apenas isso! Vamos somar e não subtrair!
Sou um ser romântico e sonhador e, por isso, antes de tudo, faço isso com muito amor e muita paixão. Aquela velha frase que não me lembro bem, mas que é mais ou menos assim: “que tem que ter amor em tudo que se faz”. Escrever é uma relação de amor e apetece de uma certa elaboração, racionalidade e objetividade. Não olhe torto pra essa frase e não seja pessimista! Acha isso incompatível com o amor? Veja tais expressões com uma certa positividade! Elaboração porque exige lidar com minuciosidades da vida e do ser humano, estabelecendo um certo rigor, racionalidade porque sempre se tenciona algo quando se escreve e objetividade porque há sempre um propósito/um fim para isso.
Tirou todo o romantismo? Claro que não!!! Calma!!! Não eximi o amor disso tudo! Quem disse que uma coisa vai anular a outra? Tira esse pensamento de que tudo tem que ser uma coisa ou outra! De onde tirou isso? Tá bom! Seria muito mais fácil se fosse cara ou coroa, contudo, não é assim que as coisas acontecem na realidade. A beleza da vida está nessa loucura indefinida e variada que transcende todas as esferas da vida. Sonhadora, romântica e, também, realista! Somos seres plurais, diversos, ambíguos, contraditórios e imprevisíveis e em tudo quase há essa tensão. O amor existe!
Na dificuldade de definir amor, recorramos à sua origem: Amor, do latim, amor,óris, o seu termo agrega definições de “amizade, dedicação, afeição, ternura, desejo grande, paixão, objeto amado”. Tudo isso está presente no ato de escrever. Escrever é quase como amar alguém! São encontros e desencontros, conflitos e entendimentos, felicidades e tristezas, dúvidas e certezas… No final tudo dá certo e todo mundo é feliz! Uma amálgama de coisas! Diriam que possui muitos significados. E fazendo um empréstimo de Drummond “A perfeita maneira de saber-se amado:/Amor na raiz da palavra”. Só pra finalizar, escrever também é “colocar a boca no trombone”! Expressão! Canção! Escrevo a partir do que penso e acredito, não necessariamente nessa ordem. Na escrita eu falo o que quero! Expresso como e da forma que quiser. Posso até lhe confundir e falar o que não quero!
Por isso tudo escrevo!
Cristina Aparecida Vilas Bôas.
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