VINICIUS MOTA
SÃO PAULO - Grandes supermercados, o governo paulista e a prefeitura da capital se uniram para salvar o planeta. Três gigantes do varejo vão transferir para você, consumidor, o custo, que era deles, de acondicionar as compras.
A partir de janeiro, comprometeram-se a não mais oferecer de graça as sacolinhas plásticas. Vamos pagar aos supermercados pelas sacolas do bem, reutilizáveis ou biodegradáveis.
Ai de quem reclamar. Prometem-se campanhas que vão transformar caixas de lojas em ativistas do Greenpeace. "É um preço modesto, senhor, para salvar a tartaruga marinha e desentupir nossos bueiros."
Imaginemos que o plano dê certo e que todos passem a usar sacolas carimbadas pelo politburo verde. Um dos efeitos será o aumento relevante das vendas de sacos plásticos "do mal" para guardar o lixo doméstico. Aconteceu em cidades que adotaram essa prática.
Do outro lado, o plástico "verde", que se degrada por exemplo em dois anos, lança o carbono de que era composto na atmosfera, atiçando o efeito estufa. A baleia jubarte terá menos sacolas para engolir, mas o Ártico vai derreter mais cedo.
Racionalizar o uso de produtos danosos ao ambiente é justificável. Mas o volume desses resíduos será sempre acachapante no Brasil, destinado a elevar o nível de bem-estar de 200 milhões de pessoas.
Sem coleta seletiva e reciclagem, a degradação ambiental estará assegurada por décadas. Pouco importa se o plástico é "do bem" ou "do mal". Se for 100% recolhido e reciclado, não vai parar no estômago do peixe-boi nem na boca de lobo da avenida Pompeia.
São Paulo recicla menos de 1% de seu lixo. Em vez de lidarem com esse vexame, fruto da incompetência de sucessivas gestões, a prefeitura e o governo estadual preferem uma pantomima ecologicamente correta que pouco resolve.
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