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sábado

Voto do povo serve de arma contra ele próprio, desabafa leitor

LEITOR JOSÉ APARECIDO RIBEIRO
DE BELO HORIZONTE (MG)

Todos os anos é a mesma coisa: chove, o barranco cede, o barraco cai, o povo grita, a imprensa escreve e dentro de algumas semanas, tudo vira lembranças, até mesmo para os que foram vitimas.
E por que nada muda? Não muda porque tudo depende da política e dos políticos. 
E com eles nada acontece, são ungidos com o manto protetor do voto.  voto também tem conferido a eles o direito à impunidade, já que tudo vira intriga da oposição e é abafado em nome do "bem comum".
Eu não mexo com você e você também não mexe comigo, somos todos do mesmo "clube": Judiciário, Legislativo e Executivo, ou seja, todos servidores públicos.
O voto tem permitido à eles o direito de prometer e não cumprir e a faculdade de exercer o ofício sem ter vocação. 
Não muda porque quem poderia promover as mudanças, atribui as causas das tragédias aos desígnios divinos. Deus resolve tudo, só não orienta o povo na hora de votar, nem tampouco seleciona candidatos decentes para que o erro possa ser menor.
Não muda porque quem define as eleições, e que são as maiores vitimas das tragédias, não sabe e nunca saberá ser o juiz da democracia.
Não muda, porque o modelo eleitoral está falido e permite que sejamos governados por indivíduos mal intencionados e incompetentes que estão ocupando cargos importantes, quando deveriam ficar longe deles. 
Não adianta gritar, espernear e achar que as manchetes dos jornais surtirão efeito.
Lalo de Almeida - 6.jan.12/Folhapress
Município de Governador Valadares (MG) que está alagado devido ao transbordamento do rio Doce
Município de Governador Valadares (MG) que está alagado devido ao transbordamento do rio Doce
Mais tarde, no conforto do sofá, tudo é esquecido na frente da telinha. Nossa democracia padece de um pecado que o filósofo Platão (Sec IV a.C) chamou de "pecado original de governos do povo". Ela permite a qualquer um, o que não deveria ser para "qualquer um", e quem sela esse pacto, não sabe o que está fazendo e vive no jardim de infância eternamente.
Nossas classes dominantes e uma parcela significativa das classes intermediárias --incluindo a classe média-- não costumam precisar da política e dos políticos, estão com a vida e a sobrevivência garantidas. 
Isso inclui o Judiciário e o Ministério Público que estão se lixando para o modelo eleitoral que facilita a entrada dos maus e desanima os bons cidadãos no interesse pela política.
O povão, por sua vez, que é quem define as eleições está entretido com o futebol, novelas, carnaval e, mais recentemente, com a barbárie do MMA (artes marciais mistas) e do UFC (Ultimate Fighting Championship). Por isso, o coro da imprensa costuma ser em vão. Se queremos mudanças de fato, capazes de evitar tragédias, o país precisa de uma limpeza na política e de mudanças radicais no processo eleitoral. Com efeito, essa limpeza jamais vai acontecer.
Enquanto mandatos forem comprados e não conquistados por idealismo, altruísmo e vocação, nada muda. 
Está cada vez mais claro que o voto do povo serve de arma contra ele próprio. Se o governo é do povo, consequentemente a culpa pelas tragédias recorrentes é do próprio povo. Não é por acaso que existe uma máxima que diz que cada povo tem o governo que merece.

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