DANUZA
LEÃO - FOLHA DE SÃO PAULO - 19/06/11
Qual de
nós não foi mais feliz do que agora? E se não éramos, achávamos que iríamos ser
um dia
A coisa
mais misteriosa que existe: o tempo.
O tempo
acaba com tudo: com as árvores, com as montanhas, com as pedras, com a água
-que se evapora-, com os sentimentos, com os bichos, com os homens.
O tempo
acaba com o vigor físico, com o paladar, com o olfato, com o interesse pelas
coisas; com a vontade de viajar, de comprar uma roupa nova, de reencontrar um
velho amigo, até com a vontade de viver. É cruel, o tempo.
Quem se
salva do passar do tempo? Os que não pensam, talvez, ou talvez os que só pensem
no momento, aquele que estão vivendo; mas mesmo assim podem pensar que já
viveram momentos parecidos e muito melhores que nunca mais vão se repetir, por
culpa do tempo.
Qual de
nós não foi mais feliz do que agora? E se não éramos, achávamos que iríamos ser
um dia, quando tivéssemos mais dinheiro, quando encontrássemos o verdadeiro
amor, quando tivéssemos filhos, quando eles crescessem, quando, quando, quando.
E agora, você espera exatamente o quê, e a culpa é de quem? Apenas do tempo.
E agora, você espera exatamente o quê, e a culpa é de quem? Apenas do tempo.
Dele,
nada escapa: é o tempo que acaba com os grandes amores, e com os grandes
entusiasmos que não resistem a ele, que passa e passa.
Não são as coisas que passam: é ele.
Não são as coisas que passam: é ele.
Passar é
modo de dizer: quando se está muito feliz, ele voa, e quando se está esperando
muito por alguma coisa, é como se ele tivesse parado.
É como
se estivesse sempre contra nós, e quando acontece de se ter uma vida
razoavelmente feliz, um dia se vê que ela já passou, e com que rapidez.
Mas o
tempo às vezes é amigo; quando se tem uma grande dor, não há dinheiro, viagens,
distrações, trabalho ou aventuras que ajudem: só o tempo.
Não
chega a ser um tratamento de choque, rápido, como se gostaria; é uma coisa
vaga, lenta, que não dá nem para perceber que está acontecendo, mas um dia você
acorda e se dá conta de que o sol está brilhando - coisa que passou meses sem
perceber que acontecia diariamente-, se olha no espelho, tem uma súbita vontade
de abrir a janela e respirar fundo.
Ainda
não sabe, mas está salva.
E um dia, muito depois, vai saber que foi o tempo, e só ele, que a salvou.
E um dia, muito depois, vai saber que foi o tempo, e só ele, que a salvou.
Nunca se
pensa no poder do tempo, do quanto ele comanda nossa vida; também nunca se
pensa no quanto ele é precioso, mas um dia você vai lembrar que ele passou e
não volta mais. Lembra quando você tinha 20, 30 anos, e se achava infeliz? Se
achava, não: era mesmo.
E quando
era adolescente, não era também profundamente infeliz, como é obrigação de
todos os adolescentes?
Mas será
que ninguém tem um tio, desses meio doidos que todo mundo tem, que pegue um
desses meninos ou meninas de 13, 15 anos, sacuda pelos ombros e diga "pare
de achar que tem problemas, viva sua juventude, não perca tempo sendo
complicada, neurótica, reclamando que sua mãe não te entende e que seu pai não
te dá a devida atenção.
Danem-se seu pai e sua mãe, aproveite a vida".
Danem-se seu pai e sua mãe, aproveite a vida".
Para ter
uma maturidade com poucos arrependimentos, é preciso não perder tempo, e mesmo
fazendo uma bobagem atrás da outra, é melhor do que não fazer nada.
Os pais querem que os filhos estudem para ter uma profissão, e estão certos; mas quem vai dizer aos adolescentes para eles aproveitarem o tempo para serem felizes em todos os minutos da vida? Quem?
Os pais querem que os filhos estudem para ter uma profissão, e estão certos; mas quem vai dizer aos adolescentes para eles aproveitarem o tempo para serem felizes em todos os minutos da vida? Quem?
PS -
Quando terminei de escrever esta crônica, lembrei de uma entrevista que fiz há
mais de 20 anos com Pedro Nava, dez dias antes de sua morte.
Ele disse que os jovens, até 30 anos, não deveriam fazer nada, nem estudar, nem trabalhar, apenas viver a vida. Ele talvez tivesse razão.
Ele disse que os jovens, até 30 anos, não deveriam fazer nada, nem estudar, nem trabalhar, apenas viver a vida. Ele talvez tivesse razão.
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