ALBERTO TAMER - O Estado de S.Paulo
É ele de novo! O consumidor brasileiro é o Homem do Ano de 2011. Um herói anônimo, você, eu, as famílias, todos que não tiveram medo da crise externa e continuaram indo às compras e sustentando a economia. É ele sim, que representa mais de 60% do PIB. Comprou de forma responsável, não se endividou mais do que podia e destinou a maior parte do 13.º salário para reduzir seu débito.
Mas não foi um ano fácil. O nosso herói termina o ano machucado pelas medidas do governo para conter a inflação, juros altos, crédito mais difícil, além do desgaste da renda provocado por essa mesma inflação que corroeu o seu salário. Quando a inflação chegou a 7,3%, em maio, o Banco Central elevou os juros para12%, conteve o crédito, o governo anunciou cortes de gastos e investimentos. Os efeitos foram imediatos. Atingido, parou para reavaliar o orçamento. O consumo das famílias que aumentara 6,9% no fim de 2010, recuou para 6,4% no primeiro trimestre de 2011, 6,2% no segundo trimestre e 5,4% no terceiro. De acordo com os dados do IBGE e do Banco Central, a média nos trimestres dos últimos 12 meses se mantém em torno de 5,4%.
Veio tarde. O nosso Homem do Ano esperava por alguns sinais do governo para voltar ao mercado, como no fim de 2010. Assustado com a forte queda do crescimento, com um PIB que beira a recessão, o governo veio em socorro do nosso herói. Nas últimas semanas, reverteu tudo o que havia feito e promete mais. Não admite que errou - e não errou - quando impôs medidas severas para conter o mercado, mas deve reconhecer que demorou para agir. Há fatos novos animando o consumidor. O novo salário mínimo está aí aumentando em 14% seu poder de compra. Essa política de valorização do mínimo representa ganho real, descontada a inflação, de mais de 54%. Talvez a política social mais expressiva dos dois últimos governos.
E o nosso Homem do Ano está aí, terminando 2011 comprando menos no Natal do que em 2010. Mas, mesmo assim, comprou mais 5%. Ele espera mais sinais do governo que o estimule a voltar a comprar. A inflação está sob controle e a atual foi absorvida no orçamento. E não me venham os economistas de plantão neste fim de ano dizer que aumento de salário é inflacionário. Se houver mais estímulo à produção - o que faltou na crise passada - e a taxa cambial se mantiver nos níveis atuais, o que é muito provável, a pressão inflacionária será menor porque os preços das commodities tendem não só a se estabilizar, mas até a recuar com a desaceleração da demanda mundial.
Aí está a China, grande consumidora de commodities e produtos básicos crescendo menos. A FAO prevê um cenário de estoque e produção agrícola suficientes para manter os preços descendentes. E, além disso, há uma safra agrícola nacional mais do que suficiente para atender com folga o crescimento da demanda. Existe o desafio do etanol, que pesou e continua pesando na inflação, mas o governo tem armas para conter o aumento dos preços, estimulando a formação de estoques.
Mas e a crise lá fora? Ela assustou o nosso consumidor, mas sem muita razão. Vejo isso nos e-mails que recebo. O leitor não acredita que a crise financeira na Europa e a desaceleração da economia mundial, que deve estar crescendo até menos de 4% se excluirmos China e Índia, não vai afetá-lo. Pode ter sido culpa nossa, da mídia que deu grande e correto destaque ao que acontecia lá fora, mas pecou ao não destacar com a mesma intensidade os instrumentos de defesa do Brasil para se proteger. Não insistiu em dizer que havia o escudo das reservas cambiais, do depósito compulsório, do caixa do Tesouro, de R$ 1 trilhão em caso de falta de crédito externo. Que a crise é menor que a de 2008 e a defesa maior.
É ele! É preciso sempre ressaltar que a grande defesa contra a crise externa é ele mesmo, o consumidor brasileiro, que autoalimenta o crescimento econômico. Está ferido pelas medidas de restrições anteriores do governo, mas termina o ano praticamente intocado porque quer ter mais renda, mais emprego e menos inflação. A forte queda do PIB nos últimos dois trimestres, o clima de recessão técnica o assustou, mas ele precisa saber que isso foi provocado pela duração das medidas de contenção da demanda que não tem nada a ver com a crise externa.
2012. A única previsão da coluna para o ano que se inicia é que, a partir do primeiro trimestre, o consumo interno voltará a crescer sem as restrições passadas e o aumento da renda. E talvez, no fim de 2012, a coluna elegerá pela quarta vez seguida o consumidor brasileiro como o Homem do Ano. Grande abraço aos leitores e, de novo, feliz 2012!
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